“Se você correu, correu, correu tanto
E não chegou a lugar nenhum
Baby, oh Baby, bem vinda ao Século XXI”
Refrão de “Século XXI”, música do “Profeta” Raul Seixas, em disco de 1989.
E, diga-se de passagem, consumismo de uma parte muito pequena da humanidade. Um mínimo de pessoas que consome o máximo que o mundo produz, enquanto a maior parte consome o mínimo que consegue obter, ou nada, apenas sobrevive.
O fato é que o crescimento industrial, por mais acelerado que seja, NUNCA conseguirá satisfazer a maioria dos seres humanos, nem lhes dar o básico de forma equânime. Muito menos, o básico acrescido do supérfluo. Supérfluo que, para muitas sociedades, se tornou o básico-do-básico, como automóveis, motos, televisões, telefones, computadores, armas... Sem contar o básico-profilático, como perfumes, sabonetes, cremes, desinfetantes, detergentes... Que dizer então do básico-enfeite de móveis, roupas, calçados e comidas?
Até quando o planeta aguenta o acréscimo de mais consumidores para esses produtos? Sem falar no básico-real que consiste em morar, vestir, comer e saciar a sede. Tudo com dignidade.
O acesso de uma Ásia inteira (China, Índia, Paquistão, Coréia do Norte etc.) ao mercado de consumo levará fatalmente ao colapso anunciado do planeta. Afinal de contas estamos falando de “apenas” metade da população do globo. E a população da África miserável? E da América Latina?
Creio que hoje assistimos ao maior dilema que a humanidade já enfrentou. A percepção de que o crescimento econômico mundial não levará a lugar nenhum, ou antes, levará à destruição da Terra, pode fazer com que o desespero dos Donos do Mundo leve-os a enfrentamentos graves neste século. Isto porque as nações desenvolvidas não se conformarão em abrir mão do seu quinhão de bem-estar e as em desenvolvimento também querem sua fatia.
E ninguém fala em tomar outro rumo como, por exemplo, ao invés de crescimento da produção, porque não diminuir o crescimento populacional? O máximo que aconteceria neste caso seria um aumento momentâneo do número de idosos em relação aos jovens, depois a coisa retomaria seu curso natural.
Mas não. Uns preferem colocar obstáculos ao crescimento dos outros. E deixam o mundo caminhar numa direção cada vez mais perigosa. Talvez apostando numa catástrofe natural ou num crescimento indefinido e artificial como hoje se observa, embalado por matanças, roubos e misérias.
A redução da atividade industrial e do crescimento populacional seria benéfica em todos os aspectos, principalmente em relação à violência pois, hoje, o sistema financeiro mundial e, consequentemente, o aumento de produção no mundo, mantém-se em pé graças ao que se chama eufemisticamente de economia informal, mas que, na realidade, trata-se de imensa teia de atividades subterrâneas ilegais, como tráfico de drogas, de gente, de órgãos, pirataria e incentivo à atividades relacionadas à guerra e à segurança (sic), além da imensa fatia de dinheiro oriunda do desvio de dinheiro público de todos os países.
O mundo já teve um padrão-ouro, passou para um padrão-fiducia e, atualmente, vive a era do padrão-ilegalidade, pois a fiducia se foi há muito tempo. E é a ilegalidade que explica a atual liquidez internacional e é o que impede a implosão dessa montanha de capitais que circula sem lastro e sem explicação.
A desaceleração do crescimento econômico, aliada a um rígido controle populacional, talvez seja a única alternativa que resta à humanidade. E as nações industrializadas deveriam começar justamente por estancar totalmente a produção/comercialização/utilização de artefatos bélicos, promovendo a paz entre todos os povos, o que as deixaria livres para atuar nos outros graves problemas que afligem a humanidade, inclusive os relacionados ao meio-ambiente.
Isso exige, no mínimo, sabedoria e esta é a matéria-prima mais rara do mundo, principalmente entre os que mandam nele.
Enquanto isso, vamos continuar comendo o amanhã.
Fernando Gurgel Filho, de Brasília
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