No início de 1995, em uma reunião no gabinete de Frederico Augusto de Lima e Silva (o recém nomeado diretor do Hospital de Messejana), na qual relatei as necessidades do Serviço de Pneumologia do hospital, uma delas recebeu a sua imediata atenção. Não dispúnhamos, no mais importante hospital cearense destinado a cardiopatas e a pneumopatas, para este último tipo de paciente uma unidade de terapia intensiva própria. Ficávamos, nos casos mais graves da pneumologia, na dependência de um difícil encontro de leito vago em UTI da cardiologia do Hospital de Messejana. Ou, ainda, em não poucas vezes, na contingência de transferir os pneumopatas em estado mais grave para os leitos de terapia intensiva de outros hospitais. Assim se, por um lado, os pacientes transferidos obtinham o benefício de um ambiente com recursos técnicos mais adequados ao tratamento, por outro, ficavam distanciados dos cuidados clínicos dos especialistas da pneumologia.
Portanto, urgia ser criada uma UTI de natureza respiratória para o Hospital de Messejana. Tomada essa importante decisão, Frederico e eu (o relator de tais carências por haver sido guindado à chefia do Serviço de Pneumologia), buscamos as primeiras adesões à causa. E convidamos dois profissionais do próprio hospital, o pneumologista Francisco Fábio Barbosa Benevides, que viria a ser o primeiro chefe da UTI, e a enfermeira Maria Elzenir de Sousa Moreira, para que integrassem o grupo de trabalho incumbido de criar a UTI. Convites aceitados, uma idéia surgiu e prosperou no grupo. Antes de tudo, deveríamos organizar e realizar no Hospital de Messejana um evento científico de atualização e motivação para a nova empreitada.
Na época, sabíamos da existência em São Paulo de um médico cearense, Marcelo Alcântara Holanda, que concluíra de forma brilhante uma pós-graduação em pneumologia na Escola Paulista de Medicina. Foi consenso de que ele deveria ser contatado e convidado a vir a Fortaleza. Aqui, em nosso hospital, ministraria um curso de curta duração na área da terapia intensiva. O que veio a ocorrer em maio de 1995, de 29 a 31, período em que Marcelo ministrou em nosso hospital um Curso de Ventilação Mecânica. No último dia do evento, como programado, também se realizou uma oficina de trabalho em que, aos participantes do curso juntaram-se alguns funcionários da área administrativa do Hospital de Messejana, para discutir as bases da futura UTI.
Detalhes, muitos detalhes... Seria uma terapia intensiva de quantos leitos? Quais os seus indispensáveis equipamentos? Necessidades em pessoal para o seu funcionamento? Como seria a rotina de admissão dos pacientes? A UTI receberia também os pacientes operados da cirurgia torácica?
Mais: deveria a UTI Respiratória ser construída no pavilhão cirúrgico onde já ficavam a UTI Cardiológica e a UTI Pós-operatória? Ou deveria ficar no entorno das unidades de internação da pneumologia. Prós e contras levantados e debatidos, no encerramento daquela oficina de trabalho, decidiram-se os seus participantes pela segunda opção. E, em uma vistoria local, já vislumbramos a situação da futura UTI. Com os seus domínios onde ali estavam: as salas da chefia do Serviço de Pneumologia e da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (que viriam a ser mudadas de local), além de uma pequena parte da Unidade H, uma enfermaria com 2 leitos (que seriam desativados).
Em 5 de julho de 1996, construída com a capacidade para 5 leitos, era inaugurada a UTI – a primeira do Norte-Nordeste do Brasil inteiramente dedicada a pacientes pulmonares. Com o nome de UTI Respiratória Professor Mário Rigatto, estando presentes na inauguração as principais autoridades do Estado do Ceará e o próprio professor homenageado, acompanhado de sua esposa, Profª. Maria Helena da Silva Pitombeira. Numa justa deferência a quem tanto o ensino e a pesquisa no Brasil estávamos a dever uma homenagem. Professor Rigatto, com grande freqüência, vinha ao Ceará e de uma forma generosa dividia conosco os seus conhecimentos de mestre e pesquisador. Naquela ocasião se resgatava com ele uma grande dívida.
Durante os primeiros meses de sua existência a UTI inaugurada enfrentou problemas. O primeiro, uma resultante da carência de profissionais já treinados em terapia intensiva, foi a dificuldade de encontrar médicos para a escala de plantões. Com empenho, buscando os já existentes neste e em outros hospitais, o problema foi solucionado. O segundo consistiu na demora em serem os leitos da UTI Respiratória credenciados pelo SUS, o que inclusive ocasionou um período de serviços prestados e não ressarcidos. Mas, graças à atuação firme do diretor Frederico, remanejando dos recursos globais da instituição, teve a UTI Respiratória o custeio e a sobrevivência assegurados enquanto persistiu a situação.
Em 2005, a UTI Respiratória, já dando sinais de estar subdimensionada para atender as crescentes demandas, necessitou de passar por uma ampla reforma. Cuidou desse remodelamento o atual gestor do Hospital de Messejana, Petronio de Vasconcelos Leitão. E a nossa UTI, ampliada em sua área física pela reforma, teve a capacidade aumentada para oito leitos, dois deles para o isolamento de pacientes. Além disso, recebeu respiradores e equipamentos de monitorização clínica em versões mais modernas. Adequando-se, como resultado final destas melhorias, aos novos padrões exigidos pelo Ministério da Saúde (Paulo Gurgel Carlos da Silva).
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