CHUTANDO E RECAUCHUTANDO
Ano de 1971. Cumpríamos o internato de seis meses em Clínica Médica no serviço do professor Paulo Marcelo, uma legenda da medicina cearense. Junto com o nosso grupo, havia colegas para os quais o período na Clínica Médica era bem mais curto. Porque os seus futuros interesses profissionais estavam focados em outras áreas da medicina, e a estas dedicariam, durante o rodízio do ano de internato, um maior tempo para o aprendizado. Um destes colegas, futuro cirurgião, após haver inquirido e examinado um paciente recém admitido, prestava contas do que fizera. Ao emérito professor, com este acompanhado de uma horda de discípulos. E vinha o colega, a respeito do assunto, apresentando um desempenho, digamos, bastante razoável. Até chegar ao exame físico, precisamente à massa abdominal que motivara a internação do doente no Hospital das Clínicas da UFC. Ora, uma massa examinada, ao ser descrita, tem que se dizer o tamanho, a relação com os planos superficiais e profundos, a ocorrência de alguma pulsação, a consistência... Faltava que o aluno dissesse a consistência, o professor lembrou esse esquecimento.
- De borracha, disse o aluno.
Estranhamos todos a descrição. Órgãos e patologias no ser humano não costumam apresentar esta consistência. Nem era um certo herói de revista em quadrinhos, o homem de borracha, que havia sido examinado. Portanto, o colega precisava esclarecer urgente o assunto.
- Borracha de pneu, complementou ele.
Mas a sensação de estranheza continuava pairando no ar da atônita enfermaria. Até que o aluno proferisse a descrição final, aquela que foi capaz de encerrar toda e qualquer discussão.
- Borracha de pneu de caminhão.
Sem dúvida, estávamos na frente de um grande admirador da obra de Charles Goodyear.
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