Num dia de outono de 1822, o compositor de 52 anos vestiu seu casaco roído pelas traças e partiu para o que pretendia ser uma curta caminhada matinal pela cidade, com uma tempestade de ideias na mente. Caminhar sempre foi seu principal laboratório para a solução criativa de problemas, então o passeio matinal se transformou em uma longa caminhada semiconsciente ao longo do Danúbio. Numa manifestação clássica do esquecimento de si mesmo que marca o intenso estado criativo agora conhecido como "fluxo", Beethoven perdeu a noção do tempo, da distância e das exigências do seu próprio corpo.
Ele caminhou e caminhou, sem chapéu e absorto, sem perceber o quão faminto e cansado estava ficando, até que a tarde o encontrou vagando desgrenhado e desorientado por uma bacia hidrográfica no interior do país. Lá, ele foi preso pela polícia local por "se comportar de maneira suspeita", levado para a prisão como "um vagabundo" sem documentos de identidade, e ridicularizado por afirmar ser o grande Beethoven – até então um ícone nacional, com um corpus de concertos e sonatas célebres em seu nome e oito sinfonias inteiras.
O vagabundo enfureceu-se e enfureceu-se, até que finalmente, perto da meia-noite, a polícia enviou um agente nervoso para acordar um diretor musical local, a quem Beethoven exigiu que o pudesse identificar. Reconhecimento instantâneo. Raiva justa. Desculpas. Lançamento imediato. Mais raiva. Mais desculpas. Beethoven passou a noite na casa do seu libertador. De manhã, o prefeito da cidade, que se desculpou, foi buscá-lo e levou-o de volta a Viena na carruagem do prefeito.
Extraído de: A notável história por trás de "Ode à Alegria", por Maria Popova
ODE À ALEGRIA Excerto da Nona Sinfonia, op. 129, de L. van Beethoven. Letra original de F. Schiller, adaptação para português de Gabriel Machado. INTERPRETAÇÃO VOCAL Coro de 280 vozes da Oficina Nacional de Canto Coral, Alma Coralis, e Coro de Câmara Kintsugi. PIANISTA Gabriel Machado
Nenhum comentário:
Postar um comentário