03 março, 2023

O caviar de Taubaté

Em 1945, em correspondência com Hermínia de Castro Natividade, o escritor Monteiro Lobato equiparou, do ponto de vista simbólico, o içá ao caviar. Isso aconteceu como forma de barganha. Lobato acabara de receber de Hermínia, que conseguiu com uma amiga, a D. Silvina Andrade, uma lata cheia de bundinhas do formigão. A oferta não foi gratuita. O preço a pagar seria um pensamento do escritor sobre o içá:
"A sugestão me incomodou porque nunca no mundo ninguém jamais 'pensou' sobre o içá – e pelo jeito é realmente coisa 'impensável'. Mas já que dona Silvina pede, faço um esforço e digo que o IÇÁ É O CAVIAR DA GENTE TAUBATEANA."
(Correspondência de Monteiro Lobato para Hermínia de Castro Natividade, em 18/11/1945. Consultada por mim no site "Almanaque Urupês", que consultou o livro "Culinária Tradicional do Vale do Paraíba", de Maria Morgado de Abreu e Paulo Camilher Florençano.)

A definição se cristalizou ao longo do tempo e o içá continua reconhecido como iguaria típica de Taubaté. Mas não é exclusividade dessa cidade, nem no Brasil.

N. do E.
O Ceará não está fora da entomofagia. Na Serra da Ibiapaba, por exemplo, há pessoas que destacam as "bundas" das formigas tanajuras (fêmeas aladas das saúvas, que aparecem em grande quantidade no início da estação chuvosa, quando são nessas ocasiões capturadas) com os fins de serem fritas, misturadas com farinha de mandioca e comidas.

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