O Dr. Antônio de Castro Lopes (1827-1901) foi uma figura curiosa das letras brasileiras no século XIX. Latinista famoso, ele publicou dicionários e livros de caráter linguístico, além de uma variedade de escritos tematizados em astrologia, espiritismo e homeopatia, também exercendo o ofício de professor, médico, teatrólogo e poeta. Segundo Bortolanza (1999), fundou o primeiro banco hipotecário do país, o "Banco Predial", além da "Companhia Serviço Doméstico", da "Caixa Mutuante" e da primeira "Sociedade Cooperativa de Consumo". Era conhecedor de tudo, um "Larrousse ambulante" nas palavras de V. de Algerama (BORTOLANZA, 1999, p. 303), que tinha resposta para qualquer questão, mesmo que nem sempre bem fundamentada.
Em 1889, Castro Lopes iniciou uma série de pequenos artigos na Gazeta de Notícias propondo a substituição de estrangeirismos frequentes na língua portuguesa por vocábulos novos elaborados por ele mesmo, a maioria a partir do latim. Os textos e a busca incessante do filólogo pela pureza da etimologia da língua não passaram despercebidos por Machado de Assis, sendo tema de três crônicas da série Bons Dias!. [...]
Muitos dos neologismos criados pelo filólogo acabaram caindo no esquecimento público, como "runimol", proposto para substituir avalanche, e "sineciforo", forjado para ocupar o lugar de "chauffeur" (nosso atual "chofer"), termos inviáveis e pernósticos na opinião de Magalhães Júnior (1985). Outros vocábulos sobreviveram de forma abatida, sendo registrados em alguns dicionários como sinônimos das palavras originais, embora muito pouco empregados na fala, como os raros "lucivelo", para substituir "abat-jur", "nasoculos", no lugar de "pince-nez", e "preconnicio", em troca de "reclame". A invenção de maior sorte foi, sem dúvida, a palavra "cardápio" (GLEDSON, 2008). O termo proposto para substituir "menu" obteve grande popularização, embora a forma francesa continue também sendo utilizada.
A intervenção de Castro Lopes era muito extremada aos olhos de Machado de Assis. O escritor, como Boas Noites, tentou convencer seu público leitor de que os neologismos alatinados, imbuídos de um equivocado sentido de nacionalidade, seriam desnecessários visto que os estrangeirismos já faziam parte do cotidiano linguístico brasileiro, recebendo inclusive características nossas.
(Extraído do trabalho MACHADO DE ASSIS E OS NEOLOGISMOS DE CASTRO LOPES, de Valnikson Viana de Oliveira, apresentado ao Curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal da Paraíba, como requisito para a obtenção do grau de Licenciado em Letras, habilitação em Língua Portuguesa. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Socorro de Fátima Pacífico Barbosa.)
O médico e vernaculista Castro Lopes - 1
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