No “Sermão do Bom Ladrão”, proferido na Igreja da Misericórdia de Lisboa perante D. João IV e sua corte, Padre Antônio Vieira valeu-se dos modos verbais para discorrer sobre um problema muito persistente:
“Encomendou el-rei D. João III a São Francisco de Xavier o informasse do estado da Índia; e o que o santo escreveu de lá, sem nomear ofícios nem pessoas, foi que o verbo ‘𝘳𝘢𝘱𝘪𝘰’ [roubar] na Índia se conjugava por todos os modos…
“Tanto que lá chegam, começam a furtar pelo modo indicativo, porque a primeira informação que pedem aos práticos é que lhes indiquem caminhos por onde podem abarcar tudo. Furtam pelo modo imperativo, porque, como têm o império, aplicam-no despoticamente às execuções da rapina.
“Furtam pelo modo mandativo, porque aceitam quanto lhes mandam, e, para que mandem todos, os que não mandam não são aceitos. Furtam pelo modo optativo, porque desejam quanto lhes parece bem e, gabando as coisas desejadas aos donos delas, por cortesia, sem vontade, as fazem suas.
“Furtam pelo modo conjuntivo, porque ajuntam o seu pouco cabedal com o daqueles que manejam muito, e basta só que ajuntem a sua graça, para serem quando menos meeiros na ganância. Furtam pelo modo potencial, porque, sem pretexto nem cerimônia, usam de potência.
“Furtam pelo modo permissivo, porque permitem que outros furtem. Furtam pelo modo infinitivo, porque não tem fim o furtar com o fim do governo, e sempre lá deixam raízes em que se vão continuando os furtos.” — Padre Antônio Vieira, Sermão do Bom Ladrão (1655)
Nenhum comentário:
Postar um comentário