Ora, enquanto meditava no México sobre o exército cubano, o exilado havia compreendido as verdadeiras razões da corrupção em Cuba.
As colônias, pensava, pelo menos têm uma vantagem sobre a semi-colônia: a corrupção não existe, pela inexistência de políticos a corromper. Compram-se reizinhos - que não passam de traidores. Mas, por isso mesmo, a semi-colônia é uma mistificação, porque sua verdade secreta é a colonização. Portanto, todas as palavras mentem, torna-se necessário transpor para uma linguagem democrática as transações coloniais: chamar "livre contrato" aquilo que, na verdade, se chama "obrigação unilateral".
Deste modo, a tarefa do "governo" semi-colonial, mesmo quando honesto - isto é, nos seus primeiros meses - já é falsear o idioma, desvirtuar as palavras de seu povo. Trai pela própria natureza: inscrita nas coisas, a traição o espera. Quando percebe isso, cansado de se vender graciosamente e contra a vontade, corajosamente se compenetra - e exige uma remuneração."
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"Não, pensava Fidel Castro, os cubanos não nascem ladrões e perdulários. A corrupção nasce da impotência e, esta, de uma soberania fantasma que mascara a dependência absoluta de nossa economia." In: "Furacão Sobre Cuba", de Jean-Paul Sartre
Fernando Gurgel
O casal Sartre com Fidel |
A estadia rendeu um livro, "Furacão sobre o Açúcar", publicado no Brasil como "Furacão sobre Cuba" pela Editora do Autor no mesmo ano, enriquecido com depoimentos de Rubem Braga e Fernando Sabino sobre suas viagens à ilha. Uma joia que merece reedição. Sartre estava, então, totalmente embevecido com os jovens revolucionários barbudos e cabeludos que haviam tomado o poder na ilha caribenha. Anos mais tarde, em 1971, ele e Simone romperiam com Fidel Castro diante da prisão do poeta Herberto Padilla.
Cynara Menezes, blog Socialista Morena
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