Detesto escrever (es)premido pelo tempo. É horrível, principalmente quando se tem, à mão escritora, uma caneta-relógio procedente de Formosa. Apesar disto, ouso apertar o teu corpo, ó sereia tecnológica. Ambígua és. Se, por tua porção-relógio, cantas as horas, os minutos e os segundos, com isto desviando os meus pensamentos da serena rota, no oposto extremo, por tua porção-caneta, os ancoras para a nova vida: gráfica.
Minhas pernas não se colocam. Tremebundas, estão sendo varridas por uma sensação de inquietude que percorre agora o corpo como um todo. É que, acima de minha cabeça, se fez ameaçadoramente real uma arma branca. Eu diria se tratar da Espada de Dâmocles, na sua versão 82. E a dita-cuja do teto pende, sustentada apenas por um fio (não confiável), exatamente acima de minha cabeça. Exatamente.
Adivinhem quem armou o terrífico dispositivo? Cronos, o Tempo, que preside a criação e a destruição de todas as coisas, concretas e abstratas. Dono de um estilo consagrado, Cronos, quando o assunto é de seu especial interesse, deixa o tempo correr frouxo, sem peias, mas, se o assunto é do interesse de um mortal qualquer, não, sem demora estabelece cronogramas e quejandos.
No meu caso: Cronos encurtará seu pavio da tolerância, minuto a minuto, na medida em que se aproximem as "digitadas" da meia-noite, o tempo-limite para esta léria terminar. Um segundo a mais, uma fração de segundo a mais... e Cronos me destruirá, uma desgraça que não fica somente no plano alegórico. Ele sempre exorbita.
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