Não sei onde andava com o meu juízo quando resolvi desafiar o grande pugilista baiano para uma luta. Detentor de um cartel inigualável, Popó era (ainda é) um nome respeitadíssimo no mundo do boxe. Uma fortaleza humana com punhos que a tornavam inexpugnável. E, para dificultar as coisas, com um abdome protegido com cinturões de ouro.
Quanto a mim, algumas baratas nocauteadas em meu apartamento (com o chinelo) eram em que se resumia o meu currículo de lutador. E, aí já fora do currículo oficial, algumas “pernas pra que vos quero” de penosa recordação. Porém, por haver feito o tal desafio, resolvi não retroceder mais. As boas idéias não morrem nunca, a menos que estejam em cérebros de gladiadores.
Antes do encontro, numa tentativa de intimidá-lo (os lutadores sempre fazem isso!), deixei escapar algumas informações a meu respeito: idade (59) e os dados antropométricos (160 cm de altura, 70 kg de peso, 150 cm de envergadura). No entanto, astuciosamente, fiz sigilo de algumas morbidades pessoais, como a artrose nos dedos. Um aperto de mãos, antes da luta, poderia já acabar com ela. A luta, claro, já que essa artrose nunca teve jeito.
Acho que não funcionou esse ensaio de intimidação. Pois soube que Popó riu muito, muitíssimo ao receber dos segundos essas informações. E, a seguir, deu férias ao sparring e foi espairecer na Ilha de Comandatuba. Não sem antes comentar para o seu saco de pancadas como já vislumbrava a luta. “Não vai dar tempo para esse cara dizer soteropolitano”.
Devolvi-lhe a gentileza através de uma correspondência. Nela deixando claro que uma lutazinha qualquer não me afetaria nas propriedades silábicas. Eu diria, no calor da futura refrega, palavras até bem maiores. Após essa jactância toda, por via das dúvidas, interrompi o preparo físico para passar mais horas com o Aurélio e o Houaiss.
No íntimo, sabia que teríamos um enfrentamento rápido. Algo do tipo round único com perspectiva de acabar em morte súbita. Popó viria com os seus jabs, uppercuts e hooks. Era assim que ele demolia os adversários. Isso quando não incluía em seu repertório de pugilato alguns humilhantes cascudos. E todo um YouTube com vídeos do Popó passou a freqüentar a minha mente.
Por isso, eu decidi montar uma estratégia bem diferente. Não deixaria o Popó ter o controle da situação. Não deixaria o Popó chegar perto de mim. Pensando bem, não deixaria nenhum soteropolitano (pelo trauma psíquico que esta palavra já me causava) aproximar-se de minha frágil aura. E, o tempo todo, eu buscaria uma luta de resultados.
Pois foi exatamente o que eu fiz, quando levei essa luta para o Googlefight.
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