Há poucos dias, revolvendo numa gaveta umas antigas fotografias, encontrei umas em preto e branco tiradas nos bastidores de um show. O show havia sido do violonista paraense Sebastião Tapajós, que aparece na maioria das fotos. Outros que são vistos nas fotos: Nonato Luís, Cláudio Costa e Teresa (esposa de Cláudio, falecida), Luís Sérgio (falecido), Nivardo (cardiologista) e eu. Violonistas, todos nós, com exceção de Teresa que era cantora profissional.
De que data eram aquelas fotos? Arrisquei que seriam da década de 80, sem poder precisar o ano. Fossem dos últimos tempos, eu saberia ano, mês, dia e horário, por conta das agendas que costumo minuciosamente preencher. Tampouco me lembrava do local onde o show de Sebastião Tapajós acontecera. Dá para sentir que, como memorialista, eu sou uma lástima...
Lembrei-me, porém, de que eu adquirira na ocasião um LP do instrumentista. Há inclusive fotografias em que ele aparece autografando os “bolachões”. Portanto, na capa do meu exemplar, além da sua dedicatória, deveria ter a data. Quer dizer, se ainda existisse esse disco, eis o problema. Algum tempo atrás, todos os meus discos de vinil com as respectivas capas haviam sido destruídos por cupins. E o que restou deles eu guardara em sacos plásticos fechados e com altas cargas de veneno. Desolado com o acontecido e querendo impor minha letal punição às térmitas.
Em busca daquele LP histórico abri os sacos plásticos. Nenhum dos pequenos agentes do crime de lesa-cultura sobrevivera. O que o veneno não matou, a asfixia fez o serviço. E, oh, sorte! – o “bolachão” de Sebastião Tapajós se achava razoavelmente preservado em meio ao estrago geral. Inclusive a capa em que havia uma dedicatória assinada, mas não mais que isso! Dentro, porém, encontrei o melhor: um folder com a data, o local e o programa do show.
24 de abril de1986
Teatro Carlos Câmara – Encetur, Fortaleza
1ª parte
J. S. Bach Dois prelúdios
L. Weiss Giga
N. Coste Estudo sinfônico
A. Barrios Valsa op. 8 nº. 4, Dança paraguaya, Allegro sinfônico
A. Lauro Valsa venezuelana
A. Piazzzolla Adiós nonino
2ª parte
Heitor Villa-Lobos Estudos nºs. 1 e 7
Guerra-Peixe Prelúdios nºs. 1 e 3
Radamés Gnatalli Estudo nº. 4
Ernesto Nazareth Odeon
Sebastião Tapajós Carimbó, Visões do Nordeste
Transcrevi na íntegra para completar a minha vingança dos cupins.
Na foto: Sebastião Tapajós e eu, há exatos 21 anos.
Um comentário:
Jair Fonseca comentou nesta página (http://jornalggn.com.br/comment/770453#comment-770453):
Paulo,
Também perdi algumas capas de discos antigos mas descobri a tempo, e salvei a coleção. Mas lá se foi a capa do álbum Deus e o Diabo na Terra do Sol, que era bem conservada e eu adorava. Nessa época morava num lugar lindo, mas embaixo da casinha havia um cupinzeiro enorme...
Resposta:
Jair,
Cupim é de lascar. Não respeita nem Deus nem o Diabo.
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