25 fevereiro, 2007

Medicina com rodízio - 3

EM DISCUSSÃO O SEXO DOS BEBÊSNo passado era comum dizer que ninguém podia “dar pitaco” sobre três coisas: cabeça de juiz, urna de votação e barriga de mulher grávida. No sentido de adivinhar o que haveria dentro delas.
Vamos por partes. Da cabeça de um juiz, a respeito de uma ação a ser decidida, comentava-se que poderia sair qualquer sentença. Da urna de votação, depois que esta deixou de ser a bico de pena, falava-se do risco em anunciar os ganhadores antes da apuração dos votos. E da barriga de mulher grávida, informar o sexo da criança em preparação, dizia-se também que não seria possível até o parto.
A modernidade abalou os alicerces de tais afirmações. Com os institutos de pesquisas a divulgarem pela mídia as intenções de voto dos eleitores. Protegidas pelas margens de erro de que elas dispõem, claro. Com a ultrassonografia a revelar o sexo da criança antes do seu nascimento. E, assim, permitindo que a futura mamãe já faça o enxoval na cor certa para o bebê.
Quanto às decisões dos magistrados, ainda estão meio erráticas. Até que se generalize a tal súmula vinculante.
Todavia, contaram-me de um obstetra que, com relação à barriga da mulher grávida, tinha uma estratégia para lidar o "princípio da incerteza". Isto de um modo bastante peculiar, numa época em que a ultrassonografia ainda não dava suas cartas. Em seu consultório, suponhamos que uma gestante, recém-examinada, lhe fizesse a pergunta ("menino ou menina?"). O obstetra, com o ar maroto, dava a sua resposta ("menino", por exemplo). Em seguida, fazia alguma anotação relacionada com o assunto na ficha de pré-natal.
No exemplo dado, se acontecesse de nascer um varão como anunciara, estaria ele a receber elogios pelo tirocínio obstétrico. Ao contrário, se o nascimento fosse de uma menina, tampouco o adivinhador ia se dar por perdido.
Já que na ficha de pré-natal, ardilosamente, ele havia anotado... "menina". O palpite oposto! Para poder provar, por escrito, que antes não se enganara: a cliente é que "ouviu mal".

"Uma grande verdade é aquela cujo contrário é igualmente uma grande verdade." – Niels Bohr, físico dinamarquês

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