Discurso após discurso, o publico se derretia de calor e de aborrecimento.
O Congo, aluno agradecido, prometia se se comportar. A Bélgica, professora severa, advertia contra os perigos da liberdade.
Então, explodiu o discurso de Patrice Lumumba. Falou contra o império do silêncio, e pela sua boca falaram os calados.
Aquele estraga-prazeres prestou homenagem aos autores da independência, os assassinados, os presos, os torturados e os exilados que, ao longo de tantos anos, haviam se batido contra a humilhante escravidão do poder colonial.
Suas palavras, recebidas pelo silêncio de gelo do palco europeu, foram interrompidas oito vezes pelas ovações do público africano.
Aquele discurso selou seu destino.
Lumumba, recém-saído da cadeia, tinha vencido as primeiras eleições livres da história do Congo e encabeçava seu primeiro governo, mas a imprensa belga chamou-o de delirante e de ladrão analfabeto.
Nas comunicações dos serviços belgas de inteligência, Lumumba foi apelidado de Satã. O diretor da CIA, Allen Dulles, mandou instruções a seus funcionários:
– A destituição de Lumumba deve ser nosso objetivo urgente.
Dwight Eisenhower, presidente dos Estados Unidos, disse ao chanceler britânico lorde Home:
– Desejo que Lumumba caia num rio cheio de crocodilos.
Lorde Home levou uma semana para responder:
– Chegou o momento de nos desfazermos dele.
E o ministro de Assuntos Africanos do governo belga deu sua contribuição para a rodada de opiniões:
– Lumumba deve ser eliminado de uma vez por todas.
Oficiais belgas, no comando de oito soldados e nove policiais, o fuzilaram no começo de 1961, junto a seus colaboradores mais próximos.
Temendo um levante popular, o governo belga e seus instrumentos congoleses, Mobuto e Tshombé, ocultaram o crime.
Quinze dias depois, o novo presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, anunciou:
– Não aceitaremos que Lumumba volte ao governo.
E Lumumba, que naquela altura já tinha sido fuzilado e dissolvido num barril de ácido sulfúrico, não voltou ao governo.
(Galeano, 2008: 303-304)
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