27 junho, 2014

O que eu teria escrito

Dustin Curtis, em What I would have written:
Eu tenho pensando sobre o raio deste ensaio há cerca de um ano, mas eu não o havia escrito por causa do Twitter. Por ser mais difícil escrever, eu tenho sido extremamente tentado a apenas tuitá-lo. Então, ao invés de não escrever nada, eu vou escrever sobre o que eu teria escrito se o Twitter não houvesse destruído meu desejo de escrever, ao criar coisas tão fáceis de compartilhar.
Vou lhe dar um minuto para deixar que a minha afirmação mergulhe em você. Não, eu não vou voltar a ler nada disso, nem a editá-lo. É cru.
O Twitter destrói as ideias complexas, forçando meu cérebro a compactá-las em aforismos, obviedades, ou piadas de 140 caracteres. Para cada grande tweet, poderia ter havido uns quatro parágrafos perspicazes, mas não houve, e nunca haverá, porque o Twitter remove o meu desejo de escrever, aniquilando minhas ideias. Uma vez que eu tuíte algo, eu paro de pensar a respeito, é como se fosse uma liberação emocional da responsabilidade para com a ideia. Portanto, se eu escrevesse este ensaio, eu teria escrito sobre como o Twitter age.
Os tweets não são grandes. E a maioria das grandes ideias que são compactadas em pequenos trechos de 140 caracteres acabam por não ser grandes também. Na verdade, elas são raquíticas versões de porcarias da coisa real, ou seja, de um  ensaio completo e bem escrito. No entanto, por alguma razão, eu as considero aceitáveis. Apesar de, obviamente, uma grande ideia não poder ser comunicada perfeitamente quando eu só tenho 140 caracteres para usar.
É como imaginar Picasso em um iPad. Claro, ele produzia muito lixo também, mas, a sério, quem quer um Picasso digital que foi "pintado" em uma tela minúscula? Imagine agora todas as pinturas que ele não teria pintado, porque estava ocupado a tocar em um pequeno pedaço de vidro, o qual, interpretando seus toques, mal se aproximava do que ele pretendia colocar maior e mais bonito em uma tela.
Eu teria escrito sobre isso, provavelmente, se eu tivesse escrito este ensaio.
Mas aqui acontece o pior com o Twitter – a única coisa capaz de destruir permanentemente a minha mente: Eu me vejo andando pela rua, e diante de cada porcaria de coisa que eu penso, penso também: "Como eu poderia colocar isso em um tweet que muitas pessoas favoritassem ou retuitassem?" É nojento, e eu me sinto como um viciado em metanfetamina, com uma constante e obsessiva urgência de que cada maldita ideia caiba em um tweet. Para compartilhar. Com você. Sem qualquer filtro real, que é o que a escrita faz.
O processo da escrita leva a ideias turvas, cheias de sujeira a serem filtradas e convertidas em pensamentos belos e puros que outras pessoas podem facilmente compreender. Se você gasta bastante tempo escrevendo alguma coisa, aperfeiçoando-o, burilando-a, você não só produz uma peça literária de grande comunicação, como também você melhora a sua mente e capacita-se a pensar sobre as coisas de forma mais plena. O Twitter me faz mais burro, porque eu não penso em coisas mais profundamente, além dos tais 140 caracteres. Se eu escrevesse este ensaio, eu talvez o teria escrito sobre isso.
E, ainda assim, eu não vejo nenhuma solução para este problema. Eu serei para sempre um escravo dos 140 caracteres, dessa coisa que apaga as idéias complexas do meu cérebro, por excesso de simplificação e que me faz enviá-las aleatoriamente para pessoas que eu nunca conheci.
Isso é o que eu teria escrito.
Você deve me seguir no Twitter aqui.
Traduzido por PGCS

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