Nascida em Fortaleza, a 17 de novembro de 1910, Raquel foi escritora, dramaturga, tradutora e jornalista.
Aos vinte anos, ficou nacionalmente conhecida ao publicar "O Quinze", romance que mostrava a luta do povo cearense contra a seca e a miséria. Demonstrando preocupação com questões sociais e hábil na análise psicológica de seus personagens, a autora teve um papel de destaque no desenvolvimento do romance nordestino.
Foi primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras e também a primeira a ser galardeada com o Prêmio Camões, o Nobel de Literatura do mundo lusófono.
Além de "O Quinze", destacam-se em sua vasta obra "As Três Marias", "Dora, Doralina" e "Memorial de Maria Moura". E vários de seus livros foram adaptados para o cinema e a televisão.
Faleceu no Rio de Janeiro em 4 de novembro de 2003.
Ilustração: Detalhe da estátua em tamanho natural de RQ, sentada num banco da Praça General Tibúrcio (Praça dos Leões), em Fortaleza.
veio morar na fazenda,
na casa velha...
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha...
A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...
Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que — coitados — tão velhos
só hoje é que conhecem a luz do dia...
A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa...
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.
Que linda camarinha! Era tão feia!
— Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão...
Por que você na experimenta?
A moça foi tão bem sucedida...
Ponha uma telha de vidro em sua vida!
(*) A grafia original do nome da biografada, Rachel de Queiroz, deve ser atualizada para Raquel de Queirós, conforme a onomástica estabelecida a partir do Formulário Ortográfico de 1943, por seguir as mesmas regras dos substantivos comuns (Academia Brasileira de Letras – Formulário Ortográfico de 1943). Tal norma foi reafirmada pelos subsequentes Acordos Ortográficos da língua portuguesa (Acordo Ortográfico de 1945 e Acordo Ortográfico de 1990). A norma é optativa para nomes de pessoas em vida, a fim de evitar constrangimentos, mas após seu falecimento torna-se obrigatória para publicações, ainda que se possa utilizar a grafia arcaica no foro privado (Formulário Ortográfico de 1943, IX). Wikipédia
Telha de Vidro
Telha de Vidro
Raquel de Queirós
Quando a moça da cidade chegouveio morar na fazenda,
na casa velha...
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha...
A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...
Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que — coitados — tão velhos
só hoje é que conhecem a luz do dia...
A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa...
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.
Que linda camarinha! Era tão feia!
— Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão...
Por que você na experimenta?
A moça foi tão bem sucedida...
Ponha uma telha de vidro em sua vida!
Um comentário:
Postagem republicada por Juvando em seu blog "Miscelânea cearense e nordéstea".
http://juvando.blog.uol.com.br/arch2010-11-16_2010-11-30.html#2010_11-17_17_55_33-6133997-0
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