Depois de nove meses preso no navio-prisão Pedro I, na Baía da Guanabara, para onde fora levado por ter sido um dos membros da proscrita Aliança Nacional Libertadora, o Barão de Itararé foi transferido para o presídio da rua Frei Caneca. Neste presídio, onde estavam encarcerados muitos dos participantes da fracassada Intentona Comunista, havia uma forma de comunicação entre eles. Era a "Radio Libertadora", que só funcionava à noite, depois que os presos voltavam a seus cubículos e, através das grades, punham-se a gritar uns para os outros. Assim que o lendário Barão chegou a esse presídio em terra firme, a pedido de todos, teve que falar na "Rádio Libertadora". Eis o seu discurso:
"Tudo vai bem. Não há motivo para receio. O que nos pode acontecer? Somos postos em liberdade ou continuamos presos. Se nos soltam, ótimo: é o que desejamos. Se ficamos presos, deixam-nos com processo ou sem processo. Se não nos processam, ótimo: faltam provas e aí, cedo ou tarde, nos mandam embora. Se nos processam, seremos julgados, absolvidos ou condenados. Se nos absolvem, ótimo: nada melhor, esperávamos isso. Se nos condenam, nos darão uma pena leve ou pena grande. Se for leve, ótimo: descansaremos algum tempo sustentados pelo governo, depois iremos para a rua. Se for pena grande, seremos anistiados ou não. Se formos anistiados, ótimo: é como se não tivesse havido condenação. Se não nos anistiarem, cumpriremos a sentença ou morreremos. Se cumprirmos a sentença, ótimo: depois voltaremos para casa. Se morrermos, iremos para o céu ou para o inferno. Se formos para o céu, ótimo: é a suprema aspiração de cada um. Se formos para o inferno, não há porque nos alarmarmos: é uma desgraça que pode acontecer com qualquer um, preso ou em casa."
Um modelo de argumentação que o leitor vai encontrar também na nota Que é a dicotomia?. Confira.
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