04 agosto, 2024

Por que Nazareth chamava seus choros de tangos?

Quanto à origem da palavra "tango", uns acreditam que seja espanhola. Outros, por sua vez, afirmam tratar-se de alguma corruptela do verbo tanger (tocar), do latim "tangere", na primeira pessoa do singular no presente do indicativo: "yo tango" (ou "eu tanjo"). Já no Dicionário Aurélio a origem é africana, sendo os dois primeiros significados a ela atribuídos os seguintes: "espécie de pequeno tambor africano" e "a dança executada ao som deste instrumento".
(...) originalmente, o choro não constituía um gênero caracterizado de música popular, mas uma maneira de tocar, estendendo-se o nome às festas em que se reuniam os pequenos conjuntos de flauta, violão e cavaquinho. (José Ramos Tinhorão)
Ainda no decênio de 1880, Francisca Gonzaga viu impressos 18 tangos de sua autoria, nenhum choro e muito menos qualquer maxixe; corroborando-se, assim, com o que Tinhorão escreveu no parágrafo anterior.
Ernesto Nazareth há muito conhecia as designações "tango" e "tango brasileiro", principalmente por intermédio de Henrique Alves de Mesquita e Francisca Gonzaga; tendo sido Chiquinha, conforme averiguei em edições originais, o primeiro dos nossos compositores a publicar obras com a classificação de "tango brasileiro".
Porém, a partir do momento em que o gênero platino (relativo à região do rio da Prata) começou a dominar os salões parisienses, isso e a má vontade dos editores patrícios para com o nosso similar e a emergente popularidade dos maxixes e choros (já transformados em gêneros com características próprias), o "tango brasileiro" passou a ter os seus dias contados. Desde então, mesmo aqui no Brasil, "tango" só o argentino!... Nazareth, entretanto, continuaria fiel ao gênero por toda a vida; ainda que isso lhe rendesse muitos dissabores.
O que o brasileiro chamou um tempo de tango não tem relação com o tango argentino. É, antes, a habanera e a primitiva adaptação nacional dessa dança cubana. Também, aliás, conhecida por tango no Uruguay, pelo que informa Vicente Rossi em "Cosas de Negros". A contradição de que os tangos de Ernesto Nazareth possuem rítmica do maxixe e que este é que se dança com eles, não tem valor nenhum. As próprias habaneras são maxixáveis, desde que a gente lhes imprima andadura mais afobada. (Mário de Andrade)
Ernesto Nazareth foi o mais significativo representante do gênero, deixando-nos cerca de 88 títulos. A partir de 1940, alguns editores passaram a substituir nas partituras de Ernesto Nazareth, sem a complacência da família do músico, a classificação "tango" por "choro", termo somente utilizado por ele, em toda a sua obra, duas únicas vezes.
Em 1919, saiu editado pela Casa Carlos Gomes, "O despertar da montanha", "tango de salão", de Eduardo Souto, que chegou a alcançar grande sucesso e alguma repercussão no exterior. Talvez tenha sido, este, o último grande "tango brasileiro" publicado. Mas, para se ter idéia do quanto a maneira de interpretar o nosso gênero já se encontrava descaracterizada, era comum ouvir "O despertar..." com andamento de "tango argentino", o que aborrecia muito o autor.
Fonte: https://ernestonazareth150anos.com.br/chapters/index/16

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