16 setembro, 2011

"O Deserto dos Tártaros"

São muitos os livros que tratam da existência humana de forma figurada. Uns tentam mostrar o valor do ser humano. Outros, sua inutilidade.
Em “O Deserto dos Tártaros”, Dino Buzzati, construiu uma bela metáfora onde podemos intuir os dois lados da moeda. O autor situa a trama em um forte fronteiriço ao deserto. Deserto de onde seria provável a ocorrência de um ataque inimigo. Vê-se, depois, que isto serve apenas para justificar a existência do forte e das pessoas que o habitam.
Ali, isolados, mesmo que as suas cidades lhes sejam acessíveis facilmente, vemos as diversas atitudes do ser humano em busca de sentido para suas realizações pessoais e, por consequência, coletivas. Que finda apenas com a morte.
Como o universo dos acontecimentos humanos são captados apenas por fragmentos, mesmo a morte de um dos confinados não significa nada ante as probabilidades que surgem aos olhos das buscas, anseios e ambições dos que ficam.
E a existência se consome nesse contínuo esperar por algo que nunca vem e, quando vem, não podemos mais usufruir, seja pela idade, saúde ou vontade. Por isso, são poucos os que podem dizer da sua vida: “Estou aqui apenas para ser feliz!”
Assim, no isolamento do forte, os soldados passam os dias se matando, se odiando, se tolerando, se encantando, se deprimindo, se enaltecendo, se regozijando, mas, como todos nós, sempre à espera dos Tártaros, de Godot, dos Bárbaros, de Deus ou de outra vida, enquanto nos esquecemos de construir de forma prazerosa a vida que temos.

Fernando Gurgel Filho, de Brasília

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