Recebo e-mails continuamente com as advertências mais variadas. A maioria deles refere-se à saúde e quase todos são mentirosos. Melhor defini-los como boatos eletrônicos que produzem efeitos mais perniciosos do que os antigos boatos de orelha e passo curto.
Uma simples pesquisa na internet bastaria para desmenti-los, mas poucos fazem isso. Preferem reendereçá-los para multiplicar seu alcance. Nessa última eleição recebi vários deles com as acusações mais espantosas, especialmente contra a Dilma. O internauta não tem consciência da gravidade desses cliques que transferem aos amigos a tarefa de abrigá-los como verdadeiros e a prerrogativa de reenviá-los. O internauta ético não tem o direito de usar a influência que tem sobre seus amigos para propagar informações falsas.
Alguns e-mails ressaltam os efeitos colaterais de remédios transformando-os em puro veneno. Outros recomendam uma milagrosa semente ou o poder curativo de uma agulha quando espetada no lugar certo. Tem gente que acredita que um cabo de colher enfiada no gargalo possa impedir a saída do gás de um refrigerante. Tal propriedade é prontamente desmentida porque o gás escapa assim mesmo, mas o pseudocientista insiste e ainda defende com veemência o seu uso. Vejo pela cidade garrafas PET cheias de água ao lado do medidor de energia com o propósito de fazer o relógio andar mais devagar. Elétrica ignorância!
São exemplos da má qualidade da educação no Brasil. As escolas querem que o aluno acumule informações, mas não ensinam o que fazer com elas. A neurociência diz que a memória humana tem limitações e o cérebro “apaga” o que não lhe é essencial. Não fique frustrado se esqueceu a letra do Hino da Bandeira ou a data do descobrimento da América (*). O homem inteligente é muito mais do que uma enciclopédia. Para guardar tudo que nos ensinam, teríamos que ter a cabeça volumosa e pesada como a de um elefante e rodas para locomoção. As informações estão nos livros e agora na internet. Dentro de vinte anos, todo conhecimento humano caberá em minúsculos chips carregados na cintura. É só aprender a buscar a informação que se quer, usá-la e esquecê-la novamente. O nosso cérebro é insuperável na arte de pensar criticamente, inventar, julgar e sentir. As escolas não ensinam como aprender por dedução, como solucionar problemas e criar novidades. O que se vê são pessoas despreparadas para enfrentar o mundo porque renunciaram à tarefa de pensar. Quem não reflete sobre o que consome vira presa fácil da política e da religião. Do outro lado estará sempre alguém inteligente elaborando técnicas para escravizá-lo a uma ideologia, religião ou produto. O brasileiro não pode continuar sendo um PATO e para isso precisamos revolucionar a educação. Educar é ensinar a aprender, ensinar a duvidar, ensinar a resolver, ensinar a inventar.
Nelson Cunha
Um desses e-mails:
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