14 agosto, 2009

"Rifoneiro"

"O ventre em jejum, não ouve a nenhum.
Vontade de rei, não conhece lei.
Não faz por nenhum, quem faz por comum.
Deus diz: faze tu, que eu te ajudarei.
A mau falador, discreto ouvidor.
Faze pé atrás, melhor saltarás.
Deseja o melhor, espera o pior.
Madruga e verás, trabalha e terás.
A quem Deus quer bem, ao rosto lhe vem.
A quem medo hão, o seu logo dão.
Além ou aquém, ver sempre com quem.
Dois lobos a um cão, bem o comerão.

Comer e coçar, é só começar.
Faz bem jejuar, depois de jantar."

É um soneto em "estilo inglês" que foi composto por Glauco Mattoso em 1977.
Para fazê-lo o autor teve que garimpar, no meio de milhares de frases do adagiário vernacular, 14 provérbios que...
  • fossem decassílabos,
  • rimassem entre si
  • e rimassem com seus hemistíquios (hemistíquio é a primeira metade de um verso), o que aqui só não aconteceu em seu 4º verso.
Além disso, na chave de ouro do soneto, ele se utilizou de provérbios que dão feedback ao provérbio do primeiro verso.
"Um trabalho de relojoeiro, daqueles que só a santa paciência de um humorista seria capaz."

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