20 outubro, 2024

O Ciúme

1987. Esta canção surgiu às margens do rio São Francisco, o Velho Chico, obviamente na ponte que "divide" a Bahia (Juazeiro) de Pernambuco (Petrolina). Caetano Veloso voltava de carro para Salvador quando resolveu entrar em um restaurante na citada divisa. Sobre a mesa em que se acomodou havia um jornal cuja manchete chamou a atenção do poeta: "Mulher morre esfaqueada na garganta, por ciúme, pelo marido". Comovido com o fato, estupefato com a informação e, somando-se a outras referências que as duas cidades, o rio, a ponte traziam para si, o compositor compôs este hino que verseja sobretudo sobre o sentimento do ciúme (o causador da violência fatal).
Dorme ponte, Pernambuco, rio, Bahia
Só vigia um ponto negro: o meu ciúme
O ciúme lançou sua flecha preta
E se viu ferido justo na garganta.

Na letra de "O Ciúme", se tomamos os gêneros das palavras Petrolina e Juazeiro para compor a analogia de um casal, é preciso que identifiquemos um terceiro, o causador do ciúme entre ambos. Não havendo a possibilidade do terceiro, não existiria razão causadora do ciúme. Este terceiro é o Rio São Francisco, que se interpõe entre as duas cidades: “Entre Petrolina e Juazeiro canta”. A estrofe central começa por tratar diretamente do rio: “Velho Chico vens de Minas”... O grande rio é o viajante que vem de longe e se coloca entre Juazeiro e Petrolina. Porém, esse ciúme logo é superado, pois o viajante segue seu curso, a admiração que causa a um e o outro a beleza do rio, logo é compreendida pelo outro, apenas, como tal, admiração. A ponte que se constrói, unifica ambos, fazendo com que seja superada a dificuldade causada pela passagem do rio. (Fernando Graça)

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