por Almir Ferreira (*)
Esse foi um tema proposto recentemente numa comunidade de história na internet, e que gerou calorosos debates. Aparentemente esse é um assunto sem muita importância, mas só o fato de envolver questões de profundo cunho ideológico e psicológico já faz desse, um debate muito importante.O nome do país suscita as controvérsias. Eles são os Estados autônomos que se uniram para formar um país no continente americano. Daí Estados Unidos da América. Alguns participantes da comunidade na internet defenderam que os nascidos naquele país sejam considerados "americanos" e não "estadunidenses" porque "Estados Unidos" é "relativo à sua forma de organização político-administrativa" sendo que, em outros países, "a construção do gentílico se dá com base apenas no último termo". Daí Brasil resulta brasileiros, Canadá – canadenses, Argentina – argentinos, e assim por diante.
Temos dois equívocos neste argumento. Primeiro, porque a forma de organização político-administrativa do país é República Constitucional. "Estados Unidos" é relativo apenas ao contexto histórico da formação do país, ou seja, a união de Estados autônomos. Segundo, Brasil, Canadá, Argentina são, de fato, nomes de países. O mesmo não se aplica a "América", que é o nome do continente. Portanto, Brasil – brasileiro, Argentina – argentino, não é o mesmo que América – americano. Isso só é verdade se você estiver se referindo a quem nasceu no continente americano e não nos Estados Unidos.
"Americanos" por costume
Há quem sustente que eles são "americanos" porque na Europa e no resto do mundo eles são tratados assim. Mas imagine o que aconteceria se hipoteticamente existisse um país no continente europeu chamado "Estados Unidos da Europa", cujos habitantes se autodenominassem "europeus"... O que será que portugueses, alemães, franceses, italianos, pensariam disso? Será que concordariam e abririam mão de serem lembrados também como europeus? É claro que não.
É óbvio que o resto do mundo nomeia quem nasceu nos Estados Unidos como "americanos". Quem pode resistir a tamanha máquina de propaganda, à cultura de massa dos seus filmes e produtos midiáticos e ao peso da sua influência ideológica que impõe a sua maneira de viver e pensar a todo o planeta?
Como então devem ser chamados?
Quem nasce nos Estados Unidos também é norte-americano, mas esse termo não se aplica corretamente caso você esteja se referindo apenas a quem nasceu naquele país. Pois canadenses e mexicanos também são norte-americanos, é bom lembrar. Portanto, a única maneira de se referir corretamente a quem nasceu nos Estados Unidos é chamá-los estadunidenses. Americanos somos todos nós deste vasto continente, desde os índios quéchua da Bolívia até os esquimós do norte do Canadá, e o fato de eles se apropriarem do termo para si é mais uma questão de poder e ideologia do que de "terminologia gentílica". Afinal, a subordinação de outras culturas e ideologias não se dá apenas através das armas. A destruição da autoestima e da cultura de outros povos se dá também através do sequestro da sua identidade. E é esse o papel da ideologia por trás de um assunto aparentemente tão banal, como tantos outros do nosso dia-a-dia, mas que estão cheios de segundas intenções escondidas.
(*) Almir Ferreira é professor de História formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), carioca, solteiro, 37 anos, escreve em blogs desde 2010 sobre os mais variados assuntos. No Panorâmica Social, desde março de 2013, publica artigos sobre temas do cotidiano, da política, do Brasil e do mundo, sempre de forma crítica e abrangente. Além disso, é flamenguista, baterista e militante das causas sociais.
2 comentários:
Uma amiga certa vez me disse que o termo correto para usar no nosso caso seria, Brasilianos e não brasileiros. Justamente por um cunho psicológico, por que brasileiros está associado a comércio, viração e consequentemente a enganação, pois tudo que lida com trocas e negociações implica também em ganhar ou perder. Pedreiro, carpinteiro, oleiro, vendeiro e todos os eiros a mais. Diz um ditado popular que tudo que termina em "eiro" da trabalho. Achei legal, seria uma das coisas a mudar nesse país. vlw
O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) considera brasiliano e brasílico sinônimos de brasileiro, o que nos autoriza a usar os três vocábulos indistintamente.
Quanto a brasiliense, este só é aplicável aos brasileiros nascidos em Brasília (para evitar confusão).
O termo brasileiro tem uma forte conotação histórica e confere exclusividade ao Brasil no processo de formação de seu gentílico. Enquanto outros países apresentam seus gentílicos com sufixos em "ês", "ano", "ão", "avo", "ino", "eno", "ense", "enho", "ita", "eco", "ol" etc.
Só uma língua artificial para resolver essa mixórdia.
O fato de brasileiro ter sido inicialmente o nome de uma ocupação (relacionada com a extração e comercialização do pau-brasil) não é nenhuma desonra para nós.
Mineiros e campineiros não se avexam com seus gentílicos.
Um abraço, MetalWe.
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