Augusto dos Anjos
"De onde ela vem?! De que matéria brutaVem essa luz que sobre as nebulosasCai de incógnitas criptas misteriosasComo as estalactites duma gruta?!Vem da psicogenética e alta lutaDo feixe de moléculas nervosas,Que, em desintegrações maravilhosas,Delibera, e depois, quer e executa!
Vem do encéfalo absconso que a constringe,Chega em seguida às cordas do laringe,Tísica, tênue, mínima, raquítica ... Quebra a força centrípeta que a amarra,Mas, de repente, e quase morta, esbarraNo mulambo da língua paralítica."
Augusto dos Anjos (1884 - 1914) - Poeta brasileiro de grande popularidade, nascido na Paraíba. Predominam em sua temática a morte, a morbidez, o pessimismo; seus versos, vazados em forma lapidar e de metrificação disciplinada e musical, encerram, por vezes, extravagâncias vocabulares até então inusitadas, em que abundam os termos técnicos, alguns abstrusos e antieufônicos, valorizados, porém, pela expressividade trágica que lhes comunicou o poeta. É autor de um único livro,
Eu (1912), que, a partir da segunda edição, póstuma, se publicou com o título de
Eu e outras poesias (1919).
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