Apartes: digressões, pontos de vista

Convalescendo de pneumonia em um inverno, Mary L. Daniels ocupou-se coletando todas as digressões para o leitor nos 47 romances de Anthony Trollope. A ficção vitoriana permitia que um escritor parasse no meio da história e expusesse seus próprios pontos de vista, e Trollope cedeu a esse privilégio com uma frequência impressionante. Juntas, suas digressões preenchem quase 400 páginas de tipo fechado, praticamente o valor de um romance em si.
Alguns exemplos:

• Em todo o mundo, quanto mais errado um homem faz, mais indignado ele fica com o mal (que é) feito a ele.
• Um homem não pode se livrar de um preconceito porque sabe ou acredita que seja um preconceito.
• A prosperidade está sempre se tornando mais próspera.
• Não é a garota que o homem ama, mas a imagem que a imaginação construiu para ele preencher a cobertura externa que agradou seus sentidos.
• Quando afivelamos nossa armadura em qualquer causa, tendemos a continuar a afivelá-la, deixando que a causa se torne tão fraca quanto possível.
• Dizem que a essência da carta de uma senhora está no pós-escrito.
• Quantas vezes, nos vários divertimentos do mundo, somos tentados a parar um momento e perguntar a nós mesmos se realmente gostamos disso!
• Não há nada que uma mulher não perdoe a um homem, quando ele é mais fraco do que ela.
• Os almanaques cômicos nos dão imagens terríveis de janeiro e fevereiro; mas, na verdade, os meses que deveriam parecer sombrios na Inglaterra são março e abril. Que nenhum homem se gabe de ter passado pelos perigos do inverno até pelo menos sete de maio.

"Essas digressões são puras Trollope – pelo menos daquele momento – não diluídas por enredo, personagem, tema ou exegese moderna", escreveu Daniels. "Ao estudar apenas essas digressões, devemos ser capazes de rastrear quaisquer mudanças no pensamento de Trollope sem referência ao que achamos que ele quis dizer ou ao que um personagem em particular disse ou fez."

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