05 novembro, 2009

Um deus dormiu lá em casa - 3

No existir monótono do ser humano, e tornado ainda infeliz pelos projetos não realizados, tudo seria bem mais venturoso se súbito um deus aparecesse. Eu não falo de um deus bíblico, muito poderoso, mas de um deus em carne e osso, não preocupado com a espiritualidade. Apenas capaz de transformar algum sonho em realidade, porque instrumentalizado se achasse para isso. Embora coubesse também ao eleito: abrir a porta, recebê-lo cordialmente (não se desleixando nos detalhes de cada situação) e indicar-lhe o quarto de dormir.
Eis a experiência - inesquecível - vivida pelo terceiro de quatro eleitos que aqui deram seus testemunhos.


Juvenal, 56, leitor inveterado - "Bem, eu sou agnóstico. Mas um dia deus dormiu lá em casa. Na pessoa de um vendedor de enciclopédia que bateu à minha porta, com a proposta de vender uma coleção por um plano especial. Não tem ninguém mais bibliomaníaco que eu, mas, ultimamente, eu vinha me privando do hábito. Sem dinheiro para comprar livros e, por vezes, até o jornal. Os tempos bicudos... Aí, eu disse ao vendedor que desculpe mas não dá... Ele até não insistiu muito. E desabafou que fizera uma rota enorme, achava-se naquele momento longe de casa... Já era noite, e eu entendi aquela conversa mole como um pedido de hospedagem. Então, mandei que ele arriasse os livros num canto da sala, e mostrei-lhe o quarto onde ele podia descansar o corpo afadigado. E, noite adentro, enquanto ele ressonava, fiz meu serviço esperto na enciclopédia. Bendita a hora em que fiz meu curso de leitura dinâmica! De modo que, quando o homem despertou pela manhã, eu já estava no verbete 'zwinglianismo'. Depois disso, voltei à realidade só que mais instruído."

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