31 maio, 2011

Sertão familiar

(desenho de autor ignorado)
por Fernando Gurgel Filho (de Brasília)

Para o prefeito, a manhã nascia ao anoitecer.
Ele se sentia em casa era na zona. Culpa daquelas “mininas, endiabradas como um capiroto de saias”. Melhor ainda era aquela novinha. Ela gostava de contar causos de sua vida de prostituta sempre que tomava uns tragos a mais de cajubrina. Dizia que começou a gostar da vida com o “bombeiro-hidráutico” da cidade. “Nu cumeçu era só acariciação, faziam diumtudo, menas as via de fatu”, dizia.
“Um dia, contava rindo, nóis estava nos aconchego e começou a dar umas dor perto do estrombo, pra baixo assim do buxo, dijunto da presiguida, e ele danou a amassagiar, bem digavarziiim. Terminamo os doise com uzóio lubriando di estrela di tanto si amar. E ficamo ali estatelado.”
“Foi tão bão que a dor passou”, concluiu.
Perdeu “a única coisa que a gente perde e nunca mais apercura, ganha é os homi tudo... Assim qui nóis amadroce”, disse, olhar sumido no pensar.
“Aí, adispois, nostros dia, fui pedir o alco pro Seu Malaquias.”
“Que álcool, menina, quer tocar fogo em que?”
“Em nada, não, é o alco de serra pru mode pain cortá uns cano.”
Seu Malaquias riu aquele riso estrupiado de safado e deu o arco de serra.
Seu Malaquias era danado, oiava prela assim, qui dava até uns choqui elético na priquita. Quando foi adevolvê o alco Seu Malaquias fez uns agrado, mandou ela ispermentá umas roupa bunita, umas alpragata e imbuxô ela. Pain mandou ela pegar os panin de bunda, pra nunca mais vortá. O fiu num sigurou, não. Aí, passou a viver assim, recebendo os homi no cafofo ou na buléia dos caminhão. “São tudo uns sacatrapo do rabudo”, finalizou, rindo o riso de quase criança. De uma brancura que alumiava tudim.
Amanhecia quando o prefeito, primo do Seu Malaquias, foi embora sartisfeito, mas cheio de istrupícius nos miolo, pensando nas disculpa que ia dar pra cascavéia. De frente pra ingreja voltou a ter confiança. Num percisava se apreocupá, não, tudo ia continuar como dantes no quarté de abrantes.
“Êta, brasirzão bão!”, quase gritou pro sol que parecia vir dar bom-dia prêle.
Para a minina, a noite descia ao amanhecer.

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