21 março, 2008

Da arte de escrever cartas

Fortaleza, 1991

1. CARTA AO LÚCIO OU A PAZ DE CRIANÇA DORMINDO
Habitante da Caio Cid, fui surpreendido pela notícia de que você, Lúcio Brasileiro, o morador mais ilustre desta rua, poderia mudar de endereço. E tudo porque, ultimamente, o cronista amigo vem tendo sérias dificuldades para conciliar o sono. Por conta de uma vizinhança recém-instalada que, entre os membros da família, inclui a presença de um bebê choramingas. Do tipo que, obviamente, ignora onde acaba o "delezinho" direito de chorar e começa o "seuzão" direito de dormir.
Bem, apesar de existir em minha casa uma criança da categoria descrita, prima facie livro a cara da bichinha. Por não atinar como o seu choro possa , ainda que asas do vento o carreguem, atravessar quarteirões até chegar ao 373 da Caio Cid. A guriazinha, acredite, tem choro apenas para acordar a mãe, o pai em segunda instância, e somente. Agora, que o choro é reiterativo "pacas", aí é outra conversa. Mas, que me faz tombar às mãos um tempo adicional, isso faz - e esta carta é uma prova de como ele está sendo bem utilizado!
Alguém, de um modo absolutamente ferino, já definiu o bebê como um ser com uma buzina em cima e um cano de escapamento embaixo. Quanto à buzina, haja engenho e arte para encontrar o respectivo modus desligandi. Mamadeira, troca de fraldas, chupeta, espasmo-silidron, canções de ninar... E, como a coisa é mesmo aleatória, o jeito é usar o processo das tentativas. Que só chega a um bom resultado quando a criança já chorou um tempão.

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2. CARTA AO NENO OU A CONVENÇÃO DA FAMÍLIA SILVA
Dias atrás, você, Neno, formulou esta pergunta: "Onde será realizada a Convenção da Família Silva?" De fato, no tocante à escolha de um local adequado, face ao gigantismo da família não há muitas opções. E se é que a convenção vai realmente ser realizada, coisa que eu ponho em grande dúvida. Pois, na qualidade de membro nato desta família, não fui até o momento avisado a respeito do inaudito encontro. Nem qualquer Silva que eu conheça.
Mas... vamos e venhamos que a convenção possa acontecer. No Maracanã, Praça da Apoteose, Parque do Anhembi, em qualquer desses locais... Ora, é piada! O Maracanã, por exemplo, só dá para abrigar - mal e mal - a "Convenção das Ovelhas Negras da Família Silva". E não me parece boa idéia um encontro que prestigie apenas o segmento recessivo da família. Por ser este parte que não representa bem o todo.
Pois é, há mais Silva no país do que supõe a vã demografia, ó Neno. Mesmo não contando os ricos, os doidos e os mortos da Silva, porque aí já passa a ser exagero. Tenho a certeza de que Deus, quando andou animando Abraão com aquela história de que o patriarca hebreu ia deixar uma grande descendência, era na família Silva que Ele estava pensando. E, agora, está aí a mega-família ajudando o Brasil a crescer... um Uruguai a cada ano. Em termos populacionais, bem entendido.
Em nosso país, nenhum programa de controle populacional funciona sem a adesão da família Silva.

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