13 abril, 2025

O Grito do Silêncio

por Fernando Gurgel Filho
A arte, em qualquer de suas manifestações, nunca ficará escondida embaixo de nenhum tapete ditatorial e violento. Podem até negá-la como expressão da liberdade e da cultura. Podem confundi-la com anarquia, licenciosidade, imoralidade, marginalidade...
Não liguem, a arte nunca será marginal, mesmo que o carimbo sem dono seja-lhe esfregado na face.
Um carimbo não é nada mais que a baixa estima da vileza. Ao invés de borrar a beleza da arte e amordaçar o grito impossível, a mensagem da arte, mesmo silenciosa, sorrateira, é um desabafo de luz, som, cores, palavras...
Quando a arte bater à sua porta emocional você vai escancarar as portas de sua casa e sentá-la no lugar mais nobre de sua sala.
Não adianta sua louça de porcelana chinesa, seus cristais da Bohemia e talheres de prata de lei torcerem o nariz, fazerem caras e bocas de nojo.
Suas Swarovski vão cintilar de alegria e tilintar de emoção. Você chorará humildemente de prazer e alegria e afastará o melhor de seu pior ódio para poder apreciar a grandeza que o preconceito e a ignorância um dia afastaram de ti.
Mas o medo é a porta de aço que tira total e totalitariamente toda a liberdade. Os tiranos que querem tutelar a humanidade precisam que os seres humanos se sintam inseguros e com medo. Medo de ter prazer, de ter ideias, de ter ideais, de sentir amor e de sentir-se amado, feliz e em paz.
Por isso os loucos, os "malucos beleza", os "corações selvagens", libertos do medo, são tão importantes para a paz e o amor, para a felicidade e para a liberdade.
Belchior nos ensinou que "Viver é melhor que sonhar" e que "Para abraçar meu irmão E beijar minha menina na rua É que se fez o meu lábio O meu braço e a minha voz" adquirindo total liberdade como os "loucos", ou, como diria Jack Kerouac, "os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo, aqueles que nunca bocejam e jamais dizem coisas comuns, mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício, explodindo..."
Ora, Jack Kerouac que, bem antes de Belchior, meteu o "Pé Na Estrada", talvez tivesse seus mesmos questionamentos, que vêm da ânsia de liberdade e de viver intensamente.
Você pergunta: "O que é que pode fazer o homem comum Neste presente instante senão sangrar? Tentar inaugurar A vida comovida Inteiramente livre e triunfante?"
Ora, "Ano passado eu morri Mas esse ano eu não morro"
Então, queria conversar com o presente, que respondeu: Aqui você não pode ficar!
Mandei uma mensagem para o futuro, que respondeu: Espere até você chegar!
Mandei outra para o passado, que respondeu: Não consigo te alcançar!
Desisti de o passado esperar; disse para o futuro: eu vou lá; e o presente, resolvi aproveitar.
E, ao mesmo tempo, "Enquanto houver espaço, corpo e tempo e algum modo de dizer não Eu canto".

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