Fernando Gurgel Filho
Apesar de andar meio parado... Sejamos sinceros, apesar de totalmente sedentário, sempre fui um esportista nato. Não por qualquer vontade de ser campeão de alguma coisa, mas porque sempre gostei de esportes.
Hoje, até tai-chi-chuan me dá cãibras.
Nem por isso deixo de assistir aos eventos esportivos.
Como minha mulher gosta de correr, de vez em quando me vejo obrigado a assistir a algumas corridas. Repito, não que eu seja averso a corridas, muito pelo contrário, o problema é o horário e as condições em que os simples mortais são colocados para assistir às corridas.
Na última que fomos, no Parque da Cidade, tivermos que acordar à seis horas da manhã. A corrida seria às oito horas. Acordar com os passarinhos em pleno domingão não faz parte das minhas preferências de vida, mas a gente faz um sacrifício.
Então, acordamos ainda com um friozinho da manhã e nos dirigimos ao Parque da Cidade.
Os atletas se preparam para correr em meio a um som bem alto e sob a voz de um locutor – que quer ser animador – que grita mais do que transmite qualquer coisa de importante. Com algum atraso é dada a largada.
Quase quinze minutos depois ainda tem gente largando. Uns porque chegaram atrasado, outros porque não conseguem acompanhar os corredores. Dão uns passos que parecem de corrida, mas andam apenas. Dizem as más línguas que alguns não fazem nem mais check up médico. Fazem check in – os que acreditam em outra vida -, ou check out – os que esperam ir para sempre. Pura maldade, mesmo.
O locutor grita a todo instante que aquela corrida é uma corrida ecológica e que os saudáveis corredores são uma das formas mais visíveis de autossustentabilidade (!!!????).
Não sei como uma corrida ecológica espalha tanto lixo pelo Parque. Os corredores e seus familiares não dão a mínima importância em jogar copos e garrafas de plástico pelos gramados. Um outro, de manhã bem cedo, antes da corrida acendeu um cigarro e depois jogou a guimba na grama seca. Não sei como a grama não pegou fogo.
E como é que se pode dizer que um ser humano é autossustentável? Aliás, essa palavrinha é muito bonitinha, os ecologistas adoram, mas, para mim, ela não quer dizer absolutamente nada. E quem conhecer um ser vivo autossustentável que me mostre! Eu não conheço nenhum na face do planeta. Ora, na minha profunda ignorância dos assunto, um ambiente ou organismo somente seria autossustentável se produzisse seu próprio alimento e sua energia, sem tirar nada do ambiente onde está inserido, e produzisse também sua própria água e o ar que respira.
E o locutor grita e reforça o caráter ecológico e autossustentável daquela corrida. E parabeniza o público presente – apenas os familiares dos corredores – e finaliza parabenizando os corredores, frisando que o importante não é vencer, é participar.
Nesse ponto, concordo plenamente com ele, pois se não fossem as inscrições dos que estão ali pelo prazer de correr, não haveria premiação para os dois ou três que são chegam na frente.
A corrida acaba. Nós, os simples espectadores já estamos torrando sob o sol que resolveu esquentar a manhã e metade do domingo já se foi. Ainda bem que a coisa acaba sendo bastante divertida.
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