01 abril, 2025

Num dia como hoje

O diabo convenceu os humanos de que os outros 364 dias do ano não são dias da mentira.

Atravessando o equador

1938 Em 1.º de abril o equador foi fotografado pela primeira vez na história. É esta linha branca (foto) que, segundo noticiou a Life, a escuna teve dificuldade em transpor.

April Fool's Day, Museum of Hoaxes

31 março, 2025

Calendário político. Artigo de Frei Betto

"Todas essas convenções e denominações estão calcadas na dança cabrocha da Terra em torno do mestre-sala, o Sol", escreve Frei Betto, escritor, autor de “A obra do Artista – uma visão holística do Universo” (José Olympio), entre outros livros.
Eis o artigo.
Podemos não perceber, mas a política está presente em tudo: na qualidade do nosso café da manhã e do transporte utilizado para ir à escola ou ao trabalho.
Mas nem tudo é política. Um casal em lua de mel não é necessariamente uma questão política. Porém, o local para o qual viajou (ou não) tem a ver com política, que influencia na renda familiar.
A política é uma faca de “dois legumes”, como se diz em Minas. Serve para oprimir ou libertar. É como a religião, que também serve para oprimir ou libertar.
Um dos exemplos mais curiosos de que tudo tem a ver com a política é este: pergunte a um grupo qual é o último mês do ano. Todos responderão: “Dezembro”. Agora indague: “Equivale a qual numeral?” Com certeza a maioria dirá: “Doze”. Errado! Dezembro equivale ao numeral dez. Antes dele, novembro, nove; outubro, oito; setembro, sete. E por que o ano tem doze meses?
Eis a política: na Roma antiga o ano tinha 304 dias e dez meses (martius, aprilis, maius, junius, quintilis, sextilis, september, october, november e december). Mais tarde, foram acrescidos os meses de janus e februarius.
Para homenagear os césares, o senado romano mudou os nomes de quintilis para julho, em honra do imperador Júlio César. O imperador Augusto, seu sucessor, não quis ficar atrás e exigiu também um mês em sua homenagem. Sextilis virou agosto, em honra de César Augusto.
Os astrônomos do reino, constrangidos, lembraram ao imperador da alternância de 31/30 nos dias de cada mês. Portanto, o mês de Augusto teria um dia a menos que o de Júlio. “Quero isonomia!”, teria dito o imperador. “Ou amanhã os senhores não terão a cabeça em cima do corpo”. O que fizeram? Arrancaram um dia de fevereiro. Julho e agosto são os únicos meses consecutivos com 31 dias.
Uma pergunta que sempre me fazem: por que a data do Carnaval muda todo ano e sob que critérios? Mudam-se também as datas da Semana Santa, de Corpus Christi e de outras efemérides litúrgicas.
Nosso calendário gregoriano é solar, ou seja, regido pela rotação da Terra em torno da estrela que nos ilumina. O calendário litúrgico é lunar, baseado nas fases da lua. Sua festa central é a Páscoa, sempre comemorada pelos judeus na primeira lua cheia do mês de Nisan. Este mês do calendário judaico corresponde ao período entre 22 de março e 25 de abril. Para nós, que vivemos no hemisfério Sul, o domingo de Páscoa é sempre aquele seguido da primeira lua cheia do outono. Neste ano, 20 de abril. Para evitar confusão com a festa judaica, a Igreja adotou o domingo seguinte ao da festa da Páscoa judaica como o da celebração da ressurreição de Jesus.
O domingo de Carnaval é sempre o sétimo antes da Páscoa cristã. A quinta-feira de Corpus Christi, a primeira depois do domingo da Santíssima Trindade, comemorado 57 dias depois da Páscoa.
O domingo de Páscoa é a data de referência das demais festas litúrgicas chamadas móveis. Há também as imóveis, como o Natal, comemorado invariavelmente a 25 de dezembro, não importa o dia da semana em que cai.
Todos os povos que seguem um calendário anual celebram a chegada do Ano-Novo denominada, entre nós, réveillon, do verbo francês réveiller, que significa “despertar”. Foi o imperador Júlio César que, no ano 46 a.C., decretou o 1º de janeiro como primeiro dia do Ano-Novo. Celebrava-se na data a festa de Jano, deus dos portões, dotado de duas faces, uma virada para frente, outra para trás. Janeiro deriva de Jano.
Os dias da semana, em português, foram nomeados por Martinho de Dume, bispo de Braga, Portugal, no século VI. Ele denominou, em latim, os dias da Semana Santa como aqueles nos quais não se devia trabalhar: feria secunda (segundo dia de feriado ou férias), feria tertia etc. Feria originou a corruptela feira.
O imperador Constantino (280-337), convertido ao Cristianismo, já havia denominado Dies Dominica, “dia do Senhor”, o domingo, primeiro dia da semana. O sétimo dia, sábado, vem do hebreu shabāt, que significa “descanso”.
Outros idiomas latinos conservam os nomes pagãos dos dias, concernentes aos planetas, como é o caso do francês, do italiano e do espanhol. Na língua de Cervantes segunda-feira é lunes, de lua; terça, martes, de Marte etc.
Todas essas convenções e denominações estão calcadas na dança cabrocha da Terra em torno do mestre-sala, o Sol. Nesse bailar, percorre quatro estações: verão, outono, inverno e primavera. E não apenas a Estação Primeira de Mangueira...
Aliás, se a evolução do Universo, surgido há 13,8 bilhões de anos, fosse compactada no calendário gregoriano, o Big-Bang, a explosão primordial, teria ocorrido a 1° de janeiro; nossa galáxia, a Via Láctea, se formado em 1° de maio; nosso sistema solar, em 9 de setembro; o surgimento da Terra, em 14 de setembro; as primeiras manifestações de vida, a 25 de setembro; e o ser humano, nos últimos segundos de 31 de dezembro.
De vez em quando é muito bom dar um passeio pela ciência, tão desprestigiada por essa gente que adora as fake news de Trump.
18 março 2025
https://www.ihu.unisinos.br/649604-calendario-politico-artigo-de-frei-betto

30 março, 2025

Humanoide Berkeley

Este pequeno robô, muito leve e ágil, é basicamente um torso com duas pernas. Ele é capaz de fazer movimentos antropomórficos, dando uma estranha sensação do estilo "vale a pena ver o que não é humano, mas que se comporta como humano". O Berkeley anda em qualquer terreno: plano, acidentado, com pedras, escadas etc.
Entre suas capacidades está a de adaptar-se a qualquer terreno, graças a seus algoritmos de aprendizagem por reforço. Também é capaz de se movimentar-se para os lados, para trás e saltar, tudo em atitudes bastante curiosas.
Além de tudo isso, o Berkeley é muito robusto. Mesmo que seja espetacularmente danificado, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.
E se, de vez em quando, fazem-lhe o "teste da perturbação" (também conhecido como "vamos irritá-lo com chutes e empurrões"), ele sai ileso. Os técnicos até vão um pouco na contramão do Stop Robot Abuse, mas, ei, é tudo pela ciência.

29 março, 2025

Transposição do Rio São Francisco integra o abastecimento de água de Caruaru

Agência Sertão, 28/03/2025 - Caruaru (foto), cidade pernambucana com cerca de 400 mil habitantes, quarta mais populosa do interior do Nordeste, passará a receber 600 litros por segundo (l/s) de água do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) por meio da Adutora do Agreste.
A captação de água da Adutora do Agreste para Caruaru aumentará em 400 l/s, triplicando a atual vazão da água da Transposição do Rio São Francisco para a cidade, que passará de 200 para 600 l/s.


Projeto de Integração do Rio São Francisco
Iniciado em 2007, o Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) atende comunidades nos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. Os eixos estruturantes do PISF, o Eixo Norte e o Eixo Leste, estão totalmente operacionais.
O avanço físico das obras já alcança 98,98%, restando apenas obras complementares para atingir 100% de execução.

Epístola do magneto

Pierre Pèlerin de Maricourt (em latim: Petrus Peregrinus) foi um estudioso francês do século XIII, que realizou experimentos sobre magnetismo e escreveu o primeiro tratado existente sobre as propriedades dos ímãs.
Uma carta que escreveu em 1269 indica que ele tinha conhecimento da polaridade magnética, sabia que os opostos se atraem, entendia que dividir um ímã de barra preservava dois polos em cada parte e estava ciente de que um ímã mais fraco poderia ter sua polaridade invertida por um mais forte.
Era hábil com metais, inventou armaduras e ajudava o rei Luís IX de França (mais do que o próprio armeiro real).

28 março, 2025

Matemática por cegos

Nicholas Saunderson, um ilustre matemático inglês que sucedeu a Isaac Newton na Universidade de Cambridge no século XVIII, era totalmente cego desde os oito anos de idade. Em outras palavras, toda a matemática de alto nível que ele dominava com perfeição, ele aprendeu sem ver, apenas pela força de sua visão interior.

"Fazer matemática significa aprender a fazer malabarismos mentalmente. (…) Em matemática, tudo acontece no cérebro. Portanto, não é necessário ver de verdade". É o que afirma Emmanuel Giroud, um cego que é também um imenso matemático contemporâneo, que parafraseia muito bem "O Pequeno Príncipe" de Saint Exupéry: na matemática, diz-nos Giroud, o essencial é invisível aos olhos. Só vemos claramente com a mente.

"Eu (Stanislas Dehaene), que bombardeei grupos de estudantes com o meu "não acredito no que vejo, acredito no que entendo" (batendo o pé como o coelhinho Tambor no final da frase), fiquei obviamente sensível a este discurso."

http://clairelommeblog.fr/2024/08/11/on-ne-voit-bien-quavec-lesprit/

27 março, 2025

Quem foi "Bota Pra Moer"?

Antônio Lima, o “Bota Pra Moer”, foi uma figura lendária de São Luís entre as décadas de 1940 e 1960.
Em seu voto de ontem (26) no STF, o ministro Flávio Dino fez referência a este marcante personagem da cultura popular maranhense:
Durante a greve geral de 1951 em São Luís, "Bota Pra Moer" liderou uma marcha com uma bandeira nacional até o Palácio dos Leões. Ao perceber a forte presença policial à frente do palácio, ele entregou a bandeira a outro manifestante e disse:
"Até aqui eu vim, mas daqui pra frente arranjem outro que seja mais doido do que eu".

Relógio do Juízo Final (2)

Um relógio simbólico adotado por cientistas atômicos para mostrar o quão próximos os seres humanos podem estar de uma catástrofe global, com a meia-noite significando aniquilação ou "dia do juízo final". Metaforicamente, o ponteiro dos minutos do relógio aproxima-se ou afasta-se da meia-noite, dependendo do nível de ameaça que se pensa estar representado pelas armas nucleares, pelas alterações climáticas ou pelas tecnologias disruptivas.
Desde a sua invenção em 1947, o relógio já foi acertado 25 vezes. Em janeiro de 2023, o relógio foi acertado para 90 segundos antes da meia-noite, o mais próximo que já esteve do dia do juízo final, em resposta à "erosão das normas de conduta internacional" e às "ameaças veladas de uso de armas nucleares" feitas pelo governo russo na guerra da Rússia com a Ucrânia.
Em ocasiões anteriores, porém, o Relógio do Juízo Final foi atrasado a partir da meia-noite, quando as condições políticas melhoraram e reduziram a ameaça das armas nucleares. Em 1991, por exemplo, o relógio foi redefinido para 17 minutos para a meia-noite, o ponto mais distante do dia do juízo final até agora. Essa decisão veio após a assinatura do Tratado de Redução de Armas Estratégicas pela União Soviética e pelos Estados Unidos, que foi um acordo destinado a reduzir os arsenais de armas nucleares de ambos os países.
Fontes:
https://blogdopg.blogspot.com/2020/12/o-relogio-do-juizo-final.html
https://www.britannica.com/topic/Doomsday-clock
https://olhardigital.com.br/2023/08/05/olha-isso/o-que-e-o-relogio-do-juizo-final/

26 março, 2025

O jardim secreto dentro da voz

Por eras, pudemos capturar a semelhança de uma pessoa distante no espaço ou no tempo, mas não sua voz: todos os retratos de reis e rainhas olhando para baixo das paredes do palácio, todos os pensadores de mármore e os nus descendo escadas, todas as fotografias de amantes e filhos, todos os milênios mudos deles. A voz era a vida encarnada, impossível de imortalizar. Então, aproveitamos a eletricidade, sonhamos com o fonógrafo e o telefone, começamos a traduzir essas oscilações efêmeras pelo ar em formas de onda elétricas para serem transmitidas e gravadas.
E então a voz se tornou algo que você podia ver.
Margaret Watts Hughes (12 de fevereiro de 1842–29 de outubro de 1907) já era uma das cantoras mais queridas de seu tempo antes de se tornar uma inventora.
Perto dos quarenta, Margaret inventou um dispositivo para testar e treinar seus poderes vocais — uma membrana esticada sobre a boca de um receptor conectado a um tubo em forma de megafone, no qual ela cantava. Para tornar sua voz visível, ela colocava vários pós sobre o diafragma de borracha e observava as vibrações dispersarem as partículas. Ela experimentou diferentes projetos: vários formatos de tubo, seda fina e borracha macia para a membrana, areia, pó de licopódio e sementes de flores para o meio.
Ela chamou seu dispositivo de eidofone, do grego eidō ("ver") e phōnḗ ("voz, som"), e se tornou a primeira mulher a apresentar um instrumento científico de sua própria invenção na Royal Society.


Mas o eidofone lhe deu uma recompensa muito maior — um vislumbre de outra dimensão da realidade.
Um dia em 1885, Margaret notou algo surpreendente — enquanto ela cantava no eidofone modulando seu tom, as sementes que ela havia colocado sobre a membrana "se resolveram em uma figura geométrica perfeita". Experimentando com sua voz, ela descobriu que tons específicos produziam geometrias específicas — formas que "alteram em padrão ou em posição com cada mudança de tom… e aumentam em complexidade de padrão conforme o tom sobe".
E então ela começou a se perguntar o que aconteceria se ela colocasse um pequeno monte de pasta colorida úmida em vez de pó no centro do diafragma e o cobrisse com uma placa de vidro, sustentando diferentes notas no eidofone.
Ela manteve seu longo tom firme, então observou maravilhada enquanto modulações de intensidade empurravam o pigmento para fora em pétalas e o puxavam de volta concentricamente em direção ao centro, cada som formando uma forma diferente. Ela cantava margaridas e rosas, ela cantava samambaias e árvores, ela cantava estranhas serpentes de beleza sobrenatural. As mesmas formações de tons produziam as mesmas flores todas as vezes — margaridas e prímulas eram fáceis de cantar, amores-perfeitos difíceis — revelando o jardim secreto dentro da voz.

Extraído de: Your Voice Is a Garden, por Maria Popova. In: The Marginalian

25 março, 2025

Crime o'clock

9h34 Chegamos à cena do crime.
9h34 Encontramos pegadas no jardim.
9h34 Percebemos sinais de entrada forçada.
9h34 Examinamos o corpo (sinais de luta).
9h34 Encontramos a arma do crime na cisterna.
9h34 Percebemos que o relógio havia parado.
14h24 Colocamos uma bateria nova no relógio.
(relatório de um perito criminal)

24 março, 2025

O caso mais famoso de Robert Liston

Embora o livro "Great Medical Disasters", de Richard Gordon (1983), preste homenagem a aspectos do caráter e ao legado de Liston, conforme observado em outras partes deste artigo, é a descrição de alguns dos seus casos mais famosos que abriu caminho principalmente para o que é conhecido sobre Liston na cultura popular.

Gordon descreve o que ele chama de o caso mais famoso de Liston em seu livro, conforme citado abaixo.
Estava Liston tão concentrado com a velocidade daquela amputação (dois e meio minutos) que ele, acidentalmente, cortou os dedos de seu assistente junto com a perna do paciente. E, quando ele voltou a empunhar a faca, acidentalmente cortou a aba do casaco de um espectador, que desmaiou no local.
Mais do que um simples desmaio, o espectador morreu a seguir de choque. Quanto ao paciente e ao assistente, como geralmente acontecia naqueles tempos pré-Listerianos, ambos faleceram de gangrena infecciosa nas enfermarias do hospital.
As três mortes tornaram a operação de Liston "a única com uma taxa de mortalidade de 300%". 
Mas, como nenhuma fonte primária a confirma, é possível que essa cirurgia não tenha acontecido.
Fontes
http://en.wikipedia.org/wiki/Robert_Liston
http://pt.quora.com/Qual-cirurgia-por-se-s%C3%B3-teve-a-maior-taxa-de-mortalidade (imagem)
http://www.theatlantic.com/health/archive/2012/10/time-me-gentlemen-the-fastest-surgeon-of-the-19th-century/264065/

23 março, 2025

Beatriz: uma canção inalcançável?

Imortalizada na voz de Milton Nascimento, a canção "Beatriz", de Edu Lobo e Chico Buarque, foi também gravada por Gal Costa, Mônica Salmaso, Renato Braz, Zizi Possi e Ana Carolina.
Faz parte da trilha sonora de "O Grande Circo Místico", um espetáculo apresentado pelo Balé Guaíra em 1982. O enredo dessa peça foi baseado no poema "Túnica Inconsútil", de Jorge de Lima, desenvolvido por Nahum Alves de Souza e que apresentava o trajeto de uma família circense ao longo dos anos.
Desafiado para interpretar esta canção, o Professor de Canto e Doutor em Música, Marcelo Elme, sentiu-se receoso de não dar conta do recado. Composta ao piano por Edu, a obra-prima "Beatriz" tem melodia e harmonia complexas, além de uma tessitura muito ampla, com graves desafiadores para sua voz médio-aguda. Mas Marcelo Elme superou os obstáculos ao escolher o tom adequado e utilizar-se de determinados recursos vocais.
Entre eles:
1. o trânsito entre os registros
2. a suavização das quebras vocais
3. a equalização dos timbres
4. a precisão da afinação em saltos consecutivos.

Arquivo da Bia
2008 Do chão ao céu
2018 O Grande Circo Místico

21 março, 2025

Vamos ver o que o tempo traz

Era uma vez um agricultor muito humilde, mas muito sábio, que trabalhava arduamente a terra de sol a sol junto com seu filho.
Um dia, o filho lhe disse: "Pai, uma desgraça aconteceu conosco, o cavalo desapareceu".
O pai respondeu: "por que você acha que é uma desgraça? Vamos ver o que o tempo traz."
Alguns dias depois, o cavalo voltou, acompanhado por outro cavalo. Então o filho disse: "pai, que sorte, nosso cavalo trouxe outro cavalo". O pai disse novamente "por que você acha que é sorte? Vamos ver o que o tempo traz".
Depois de alguns dias, o rapaz quis montar o cavalo recém-chegado e este, não acostumado ao cavaleiro, ficou furioso e o jogou no chão. E o jovem quebrou a perna.
O rapaz exclamou: "Pai, que desgraça, quebrei minha perna!" E o pai, com sua experiência e sabedoria, disse: "Por que você chama isso de desgraça? Vamos ver o que o tempo traz." O jovem não estava completamente convencido da filosofia do pai, mas recolheu-se em sua cama.
Alguns dias depois, os enviados do rei atravessaram a aldeia, procurando jovens para levá-los à guerra, chegaram à casa do camponês e viram o jovem com a perna quebrada, deixando-o e continuando o caminho.
O jovem entendeu então que, em muitas ocasiões o que parece um infortúnio é uma bênção disfarçada. Que sorte ou azar não são acontecimentos absolutos, e que é preciso ver o que o tempo traz.

https://www.tudoporemail.com.br/content.aspx?emailid=14843

20 março, 2025

Yubizuka

Thumbs-up (sinal de positivo).Fred Cherrygarden (usuário de atlasobscura.com)

Nos tempos feudais, Denzuin era conhecido como um dos três maiores templos em Edo (Tóquio), ao lado de Zōjō-ji e Kan'ei-ji , mas hoje não é tão popular quanto os outros dois. Ainda assim, o templo é um lugar agradável e com alguns monumentos interessantes. No pequeno jardim, por exemplo, há uma escultura surreal de bronze de uma mão segurando o pulso do outro braço, que está fazendo um sinal de positivo.
Mas por quê?
O monumento é chamado Yubizuka ("monte de dedos"), mas não é um monte onde dedos decepados são enterrados. Em vez disso, é simplesmente um monumento que comemora um mestre da pressão dos dedos — ou shiatsu (*), em japonês.
Yubizuka foi doado ao templo por Tokujirō Namikoshi, uma celebridade do shiatsu conhecida como "o único japonês que massageou Marilyn Monroe". Em 1955, ele fundou a primeira escola de shiatsu no Japão, localizada ao lado do templo, que foi a conexão para trazer esta escultura um tanto bizarra para cá.
(*) O shiatsu é uma técnica de massagem originária do Japão. O terapeuta usa as mãos, o polegar e outras partes do corpo para aplicar uma pressão direta em pontos estratégicos dos meridianos do corpo, segundo a medicina oriental.

19 março, 2025

Gibi, a revista que se tornou sinônimo de HQ no Brasil

1ª edição: 12 de abril de 1939.
Editora O Globo. Formato tabloide com 32 páginas. Custava 300 réis.
Primeira série da revista foi até o número 1739, em 31 de maio de 1950.

Um dicionário de português certamente traz a definição de gibi como "nome dado às revistas de histórias em quadrinhos (HQ)" — ou algo parecido com isso. No entanto, Gibi é um termo que já significou menino, moleque, menino negro. Muitos desses garotos vendiam jornais nas ruas das grandes cidades. Foi esse pequeno vendedor negro de jornais que inspirou o nome e com que o personagem nas capas em sucessivas edições.
E o que aconteceu depois? A editora "O Globo" lançou uma uma revista em quadrinhos chamada Gibi. Na capa, como um símbolo, todos os seus números traziam uma representação negativamente estereotipada de um menino negro, o tal "gibi", mascote que emprestava nome à publicação. 
E o sucesso de vendas da revista no Brasil acabou transformando a palavra gibi em sinônimo de revista de histórias, além de inspirar as bibliotecas brasileiras a dotarem a denominação de gibiteca para seus acervos de HQ.
Não estar no gibi (exemplo: essa notícia não está no gibi), diz-se quando algo é incrível ou fora do comum.
Fonte: http://www.bbc.com/portuguese/articles/cg3ldpgvgnlo

Do gibi à gibiteca: origem e gênese de significados historicamente situados
Autor: Richardson Santos de Freitas
Monografia apresentada em 14 de dezembro de 2023 à Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), como atividade optativa do curso de graduação em Biblioteconomia.
RESUMO
Esta pesquisa faz um estudo sobre a palavra gibi, através do método histórico, investigando as mudanças de seu significado e sua assimilação sociocultural. Considera-se que esse gênero artístico e fonte de informação para desenvolvimento de coleções especiais prescinde de estudos críticos sobre abordagens teóricas, lexicais e historiográficas para melhor compreensão desses materiais para o desenvolvimento de coleções. Nesta investigação, os primeiros registros foram encontrados em jornais de 1888, pesquisados na Hemeroteca Virtual da Fundação Biblioteca Nacional do Brasil. Constatou-se que inicialmente gibi era um apelido atribuído a pessoas negras. Posteriormente, transformou-se em uma gíria racista direcionada aos meninos negros, possuindo o sentido pejorativo de feio e grotesco, publicados em anúncios e em páginas de quadrinhos de periódicos. Depois a palavra passou a ser usada para designar os meninos negros que vendiam jornais nas ruas. Desses pequenos vendedores surgiu a inspiração para o título da revista Gibi, lançada em 1939 pela editora O Globo. O sucesso de vendas da revista, a ampla publicidade, o investimento em relações públicas e o cenário de críticas aos quadrinhos vindas principalmente de adversários da editora transformaram a palavra gibi em sinônimo de revista de histórias em quadrinhos no Brasil, fazendo o sentido original cair em desuso. A popularização do termo inspirou as bibliotecas brasileiras a adotarem a denominação de gibiteca para seus acervos de quadrinhos.
Fonte: http://nanquim.com.br/do-gibi-a-gibiteca/

18 março, 2025

Pensamento

Às vezes, no processo de escrever instruções boas para o ChatGPT, acabo resolvendo meu próprio problema, sem sequer precisar enviá-las.
~ Steph Smith
Antes do ChatGPT, não chamavam isto de pensar?

Donald "Jabba" Trump

Mundo ao Minuto - Neste domingo (16), o deputado Raphaël Glucksmann, que representa a França no Parlamento Europeu, sugeriu que os Estados Unidos devolvessem a Estátua da Liberdade, que foi oferecido pela França no centenário da Declaração da Independência dos Estados Unidos.
Glucksmann, que é um grande defensor da Ucrânia, fez a sugestão após as medidas que estão sendo tomadas pela administração Trump na guerra da Rússia. O parlamentar justificou que os EUA já não se guiam pelos valores que levaram Paris a dar este presente.
O eurodeputado fez críticas não só à atuação de Washington em relação á guerra na Ucrânia, e à aproximação a Vladimir Putin, mas também contra as demissões que estão acontecendo em instituições públicas, como em organizações de pesquisas nas áreas da saúde e do clima.

17 março, 2025

Como um soldado lidou com suas doenças na guerra

Roland Bartetzko
ex-membro do Exército de Libertação de Kosovo
Quando cruzei as montanhas entre Kosovo e Albânia, tive uma gripe forte. Não conseguia dormir, estava totalmente congestionado e até tive um pouco de febre.
Não havia médico nem paramédico, mas não importava. Nunca teria passado pela minha cabeça pedir ajuda médica a alguém.
Estávamos em uma pequena trilha na montanha onde pessoas que já haviam passado por ali haviam sido emboscadas ou pisado em minas antipessoais.
Eu estava preocupado em levar um tiro, e não com a febre,  a dor de cabeça ou com o ranho no nariz.
Uma vez em Kosovo, tive um caso muito ruim de diarreia. Eu não estava acostumado com a comida de lá e meu estômago se revoltou. Por quase dois meses, não consegui defecar normalmente; tudo o que saía do meu traseiro era um fluxo aquoso.
Foi tão ruim que senti inveja quando via que alguém havia deixado um dejeto "de verdade" no vaso sanitário. Fiquei pensando: "Será que algum dia conseguirei produzir algo firme e saudável como esse 'torpedo' marrom?"
Ficar com ciúmes das fezes dos outros, era assim que eu me sentia!
Eu fui ao médico? Claro que não. Eu me sentia mal, mas estava vivo. Eu não estava morrendo. Tentei me manter hidratado e, eventualmente, melhorei.
Outros soldados tiveram problemas semelhantes, alguns deles estavam até piores do que eu. Éramos todos jovens e geralmente em boa forma física, e pensávamos que a diarreia não nos mataria.
Estávamos certos. Todos nós sobrevivemos às nossas pequenas doenças, mas alguns de nós não sobreviveram à luta.
Afinal, havia uma guerra acontecendo! Enquanto não houver nada quebrado ou você estiver sangrando muito, você se cala e continua.
O Blog EM não se responsabiliza pelos autocuidados de um correspondente de guerra.

16 março, 2025

Aulão de violão

Com o mestre Robson Miguel

Música = ritmo (corpo) + melodia (espírito) + harmonia (alma)

15 março, 2025

O mapa alternativo de Portugal pelos portugueses


Jardim da Europa à beira-mar plantado
É verso de Tomás Ribeiro (1831-1901) incluído no poema "A Portugal", que abre o seu livro "D. Jayme" (1862). Este poema, constituído por 15 oitavas, dá, de resto, o mote do livro em seu acentuado pendor nacionalista. Dele se transcreve uma das estrofes:

"Jardim da Europa à beira-mar plantado
De louros e de acácias olorosas,
De fontes e de arroios serpeado,
Rasgado por torrentes alterosas,
Onde num cerro erguido e requeimado
Se casam em festões jasmins e rosas;
Balsa virente de eternal magia
Onde as aves gorjeiam noite e dia."

14 março, 2025

A aquisição do fascista Tech Bro está aqui

Joan Westenberg (@Daojoan) expõe a verdade nua e crua do que está acontecendo em nosso redor:

O futuro dos Estados Unidos não é mais decidido em Washington. Esse navio já partiu. Agora é ditado nos bunkers, jatos particulares e complexos de um Vale do Silício ideológico, por bilionários e extremistas da riqueza com a intenção de tratar a democracia como um incômodo que deve ser afastado. Esses homens — criados em uma imprensa raivosa que mitificou sua existência em suas vidas, os chamou de Wunderkind (do alemão wunder "prodígio" + kind "criança) e os tratou como algo acima e além da mera mortalidade — consumiram uma dieta constante de fanfics (de fan fiction, escritas ficcionais feita por fãs, baseadas em obras existentes) por  libertárias e autoritárias e, em seus estertores, conceberam uma nova ordem, projetada para servir seus egos elevados a todo e qualquer custo.

A Internet deveria ser o grande equalizador. Ela deveria ser uma força que destruísse hierarquias e desse poder às pessoas comuns. Em vez disso, ela permitiu a extração de riqueza e a avareza de um cartel de déspotas superalimentados e supermimados que enriqueceram em nome da inovação, sangraram o mundo até o ponto de um colapso quase total, intelectualizaram seu fetiche de poder e agora veem as instituições públicas como os obstáculos finais a serem desmantelados em sua busca egoísta e delirante por mais.

O declínio da América para o fascismo (envolto na bandeira e carregando uma cruz, segundo Elisabeth Vallet) foi permitido, apoiado, nutrido e encorajado por bilionários da tecnologia e CEOs que estão tão distantes da humanidade e do florescimento humano que se imaginam melhores administradores da nossa existência do que nós. Era evitável. É deplorável. E deveria ser uma afronta a qualquer um que acredite em liberdade, determinação e autonomia.

Este não é um debate abstrato ou uma preocupação distante. Esta não é uma teoria da conspiração, embora, em algum nível, seja claramente uma conspiração. O deslizamento autoritário nos Estados Unidos está acontecendo hoje, possibilitado por bilionários que veem a governança como uma ferramenta para ganho pessoal. A democracia está sendo desmantelada em tempo real, não por meio de golpes militares, mas por meio de aquisições corporativas, propaganda algorítmica e a influência descontrolada da riqueza.

Leia o ensaio completo em theindex.media.

Os grifos são nossos. PGCS

13 março, 2025

A linha reta mais longa do mundo

deve ser a Linha Mason–Dixon, um limite de demarcação entre quatro estados dos Estados Unidos. Faz parte das fronteiras da Pensilvânia, Virgínia Ocidental, Delaware e Maryland. O levantamento dessa linha de fronteira foi feito quando esses territórios eram ainda colônias inglesas.
Foi traçada por Charles Mason e Jeremiah Dixon entre 1763 e 1767, para resolver um conflito de fronteiras na América do Norte colonial.
Na cultura popular, e especialmente desde o chamado Compromisso do Missouri de 1820, usa-se simbolicamente a linha Mason–Dixon como uma fronteira cultural que divide o norte do sul dos Estados Unidos. (Wiki)

12 março, 2025

Furtando a Lua

Esta série de fotos foram tiradas por Cris Froese, da Polônia. É chamada de "Furtando a Lua", e o fotógrafo levou 2 anos até obter estes resultados  em 2021.


Lembram as fotos da fotógrafa russa Diana Badmaeva. Em 2019, junto com o marido, Diana capturou a cena de um homem que "colocou o Sol no porta-malas de um carro".

Pesquisar bộ ảnh "cất trăng vào cốp" gây sốt trên mạng xã hội no Google.

11 março, 2025

Lé com lé e cré com cré

Significado: Cada qual com os da sua igualha ou da mesma condição social ou moral.
Origem desta sentença (segundo Monteiro Lobato): Leigo com leigo e clérigo com clérigo.
Exemplos:
"Contenta-te com o teu estado, Sancho? respondeu Teresa, e não te queiras levantar a outros maiores, e lembra-te do rifão que diz: lé com lé e cré com cré." (Trecho do livro "Dom Quixote", de Miguel de Cervantes, Cap. VI, Segunda Parte)

O que teria a Olimpíada com a tal Ceia? Pensem, usem o cérebro! Olimpíadas tem a ver com o Olimpo, o que retrata o quadro. Apenas pensem. Relacionem lé com cré. É tão difícil assim? (Zé de Abreu) 

10 março, 2025

Cabra-do-paraíso?

- Nã, na nã, na nim, na não.
O nome é "Antílope da Nuvem III". Não é um animal de verdade.
Tem cabeça e pernas fundidas em resina, armação de argila de polímero e arame resistente, com um pouco de peso adicionado à área do quadril e coxas para ajudar a equilibrar a cabeça. Seu casaco fofo é feito de pele sintética, costurada à mão no corpo antes de cortar o cabelo e dar um pouco de cor.
É um objeto artístico articulável, portanto.
https://fruitbatphoenix.com/posable/cloud-antelope-iii.php

Comentário no Xuitter: 
Consta que o criador entrou com um processo contra o Pinterest que divulgou a imagem sem a respectiva marca d'água.

09 março, 2025

O único longa-metragem de Liechtenstein

O minúsculo Principado do Liechtenstein é, numa base per capita, uma nação muito rica. Mas com uma população de apenas 39.000 pessoas, existem certas características comuns entre nações maiores que lhe faltam, como aeroportos, um exército, uma moeda e até embaixadas em terras estrangeiras. Também carece de uma indústria cinematográfica centrada no país, produzindo filmes por e para o Liechtenstein e empregando principalmente seus próprios cidadãos.
No entanto, há um longa-metragem que pode ser considerado um verdadeiro filme de Liechtenstein, pois foi rodado naquele país e conta uma história que ali se passa. O filme "Kinder der Berge", de 1958, que conta a história de um entalhador de Liechtenstein que vivencia um milagre atribuído a uma estátua da Virgem Maria que ele esculpiu.
Os atores são principalmente alemães e suíços, sendo o personagem principal interpretado pelo aclamado ator suíço Maximilian Schell. Mas um príncipe e uma princesa desta monarquia alpina também aparecem para dar a este filme um sabor definitivo de Liechtenstein.

Sinopse
Josef Rainer é um trabalhador rodoviário numa aldeia montanhosa no Liechtenstein. Sua esposa, Marianne, trabalha como garçonete em um restaurante para ganhar o escasso dinheiro das tarefas domésticas. Algumas pessoas se perguntam por que ela se casou com aquele pobre diabo, já que poderia ter se casado por dinheiro. Mas ela fica com o afiado entalhador. Ele cria objetos fantásticos feitos de raízes de árvores, mas os moradores zombam dele. A família sonha em ter uma vaca para ser mais independente. Um dia Josef junta todas as economias e vai ao mercado de gado. Por falta de dinheiro, um fazendeiro esperto dá-lhe uma vaca magra e doente. Os filhos Hansli e sua amiga Ludmila levam a vaca a sério. Ludmila ainda empresta seu nome ao animal. Algum tempo depois, Josef cai de uma montanha e fica muito tempo sem poder trabalhar. Então decide-se que a vaca Ludmila, que não produz leite, deve ser abatida. Para evitar isso, Hansli a leva secretamente para um pasto alpino. Um milagre acontece: a vaca Ludmila passa a produzir, depois de comer uma erva especial, mais leite do que qualquer outra vaca. Os aldeões atribuem isso à estátua de madeira da Virgem Maria que Josef fez com a raiz de uma árvore.
https://www.neatorama.com/2023/12/31/Kinder-of-Berge-Liechtensteins-Only-Feature-Film/
https://www.imdb.com/title/tt0051817/plotsummary/?ref_=tt_ov_pl

08 março, 2025

Aumentam ataques russos à Ucrânia após posse de Trump

Os ataques de drones e mísseis russos à Ucrânia aumentaram enormemente desde que Donald Trump tomou posse em janeiro de 2025. Dados do instituto norte-americano Institute for the Study of War mostram picos notáveis no número de ataques nos últimos dois meses.

Dia Internacional da Mulher

8-mar-2025
"Imagine o quanto a sociedade seria mais avançada hoje se as mulheres, que representam metade do poder cerebral do mundo, fossem social e intelectualmente emancipadas desde o início da civilização."
~ Neil deGrasse Tyson

07 março, 2025

A paciência das coisas comuns



Tenho pensado como Pat Schneider pensa
sobre a paciência das coisas comuns.
(E o que é mais generoso do que uma janela?)
Pois havia em minha casa basculantes
que eram como a gente tratava na intimidade
uma janela de vidros basculantes.

06 março, 2025

Amigos de sempre

Carta escrita por Paulo Freire, em 31 de maio de 1968, desde Santiago, no Chile, a seu amigo Ariano Suassuna. Na correspondência, Paulo Freire agradece ao “fraterno, risonho e confiante” amigo pelo apoio “desde o primeiro momento” de perseguição política, que resultou no exílio de Freire naquele país. Esse importante documento faz parte do acervo documental de Ariano Suassuna, que foi organizado, em 2007, sob coordenação do professor Carlos Newton Júnior (Departamento de Artes, CAC/UFPE). DOI: 10.51359/2675-7354.2021.251437

Querido amigo Ariano:
Há poucos dias lhe escrevi, perguntando-lhe, inclusive, como andava minha situação. Volto agora a fazê-lo, depois de ter sido informado pela imprensa, brasileira e chilena, do resultado de meu processo e de ter recebido um telegrama amigo de Monte e Paulo Cavalcanti, confirmando a notícia.
Escrevo-lhe agora, meu velho amigo, para dizer-lhe de minha sincera gratidão pelo interesse que você teve, desde o primeiro momento, por meu caso. Nunca me esqueço de sua valentia de querer bem, quando, ao chegar ao aeroporto do Recife, vindo de Brasília, num momento em que tudo era penumbra, interrogação, desconfiança, medo, denúncia, fuga, negação; em que os “amigos”, antes e depois que o galo cantasse — não importava — diziam: “Quem é? Não conheço. Jamais vi este homem!” ou, o que era pior: “Conheço este homem, sempre desconfiei de suas intenções malvadas”, lá estava você, fraterno, risonho, confiante, ao lado de Monte, ambos abraçando-me. Abraçando-me, quando cumprimentar-me, simplesmente cumprimentar-me, era uma ameaça a quem o fizesse.Você, Monte e outros, muitos outros, foram o contrário de alguns. Entre estes, nunca me olvido também, sem rancor e sem ressentimento, do testemunho de um professor da universidade, que, ao dobrar uma esquina — a do cinema São Luiz — me divisou a uns 10 metros de distância e fez então o mais difícil: andou de lado...
Você, pelo contrário, veio sempre de frente ao meu encontro, a nosso encontro. Encarcerado, você procurava Elza, enquanto os que andavam de lado perderam nosso endereço...
Nesta carta “sencilla” nada mais lhe direi além do meu, do nosso muito obrigado.
Do amigo-sempre,
Paulo Freire
Santiago, 31.5.68


Ao postar esta foto de Ariano e Paulo em sua página no Xwitter, Mario Lago Filho perguntou:
"Precisa mais?"
Recife, década de 1990. Fotógrafo desconhecido. Acervo dos herdeiros de Ariano Suassuna.

05 março, 2025

O gorgulho-girafa de Madagascar

Não é de surpreender que esta criatura de Madagascar (*) de aparência extraordinária receba o nome que tem por seu pescoço estupendamente longo. É três vezes mais longo no macho do que na fêmea da espécie (Trachelophorus giraffa), configurando um casal sexualmente dimórfico.
O gorgulho-girafa desenvolveu o pescoço estendido para lutar pelo direito a uma fêmea (que aguardará pacientemente o resultado da luta e que, até mesmo ocasionalmente, agirá como árbitro antes de procriar com o vencedor).


(*) Madagascar, que é uma grande ilha na costa leste da África, seu isolamento do continente fez com que muitas criaturas estranhas evoluíssem por lá, as quais não são encontradas em nenhum outro lugar do mundo.

04 março, 2025

Sobre o gênero Palindroma

Palindroma (Jocqué e Henrard, 2015) é um gênero de aranhas da família Zodariidae.
Abrange cinco espécies, e o nome de cada espécie (P. aleykyela, P. avonova, P. morogorom, P. obmoimiombo e P. sinis ) é um palíndromo, palavra que se lê da mesma forma para trás ou para frente.

03 março, 2025

Oscar de filme internacional para "Ainda estou aqui"

Em seu discurso de agradecimento, o cineasta brasileiro Walter Salles (na foto, com Fernanda Torres) dedicou o prêmio do filme à Eunice Paiva, afirmando "que ela, durante uma perda sofrida em um regime autoritário, decidiu a não se curvar e resistir".
Também agradeceu às atrizes Fernanda Montenegro e Fernanda Torres (mãe e filha na vida real), que representaram a personagem principal de "Ainda estou aqui" em períodos diferentes de sua existência.
A luta de Eunice Paiva após seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, ser detido e morto pela ditadura militar no Brasil (1964 - 1985), é uma evocação ao mundo do que acontece na vida cotidiana das pessoas, quando golpes de Estado obtêm sucesso.
Que a merecida premiação lembre a todos que esquecê-los não é uma boa ideia. Anistiá-los, muito menos.


Lamentável que o nome do cineasta e escritor Cacá Diegues, falecido em 14/02/2025, não tenha sido lembrado por ocasião do IN MEMORIAM da cerimônia do OSCAR 2025. Um dos fundadores do Cinema Novo, ao longo de sua carreira, Cacá Dieges fez mais de 20 filmes de longa-metragem e publicou livros sobre o cinema no Brasil.