18 novembro, 2025

Vá plantar batatas!...

Um sujeito enfezado me mandou: fui.

A batata - doce, gorda e morena - parecia um pequeno gênio da garrafa: cabeça miúda, umas dobrinhas e aquele barrigão cheio de vontade de viver.

O método é prosaico. Pegue uma sacola de supermercado, molhe-a bem por dentro até pingar e coloque ali sua batata, também úmida, como quem pretende jogá-la na lixeira. Dê um nó firme - para não tentar fugir da nobre missão feminina. Depois, esqueça-a no escuro de uma gaveta por quinze dias: um repouso merecido, desses que o mundo não dá.

Então, quando se lembrar de desfazer o nó, verá brotos por todos os lados, ávidos por luz e terra. Corra com eles, os pequenos famintos de chão, para um pedaço de terra fofo: querem fincar raízes no mundo.

Não me pergunte o resto. Só sei que, passados uns quatro meses, sua batata voltará multiplicada.

E aí me pergunto: se a vida resiste e brota de otimismo até dentro de uma sacola esquecida, como é possível ainda haver fome - e tristeza - neste mundo?

Pós-escrito:

Paulo, o texto não é tutorial. Metáforas e alegorias.

Nelson José Cunha

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