Pro · cras · ti · na · ção. Quão apropriado é que esta palavra seja longa e latina, levando-se algum tempo para chegar a uma conclusão. O fundador dos Alcoólicos Anônimos, Bill Wilson, escreveu que a procrastinação é "realmente preguiçosa em suas cinco sílabas". E, no entanto, a palavra denota muito mais do que mera preguiça ou indolência: um procrastinador, que organiza meticulosamente uma gaveta de meias ou uma biblioteca do iTunes, não pode ser exatamente acusado de preguiça. Da mesma forma, a procrastinação não é simplesmente o ato de fazer um adiamento. Implica uma evitação intencional de tarefas importantes, adiando responsabilidades desagradáveis que se sabe que devem ser atendidas imediatamente e colocando-as em segundo plano para outro dia.
A promessa de "outro dia" é a chave para a origem da palavra. Ela deriva do verbo latino procrastinare, combinando o prefixo pro, "avançar", com crastinus, "de amanhã" - daí, mover algo para um dia à frente. Mesmo nos tempos antigos romanos, a procrastinação foi menosprezada: o grande estadista Cícero, em uma de suas filipinas atacando seu rival Marco Antônio, declarou que "na conduta de quase todos os casos a lentidão e a procrastinação são odiosas" (in rebus gerendis tarditas e procrastinatio odiosa est).
Quando procrastinate e procrastination começaram a aparecer em inglês, em meados do século XVI (época em que os latinismos inundavam a língua, principalmente via francês), as palavras sugeriam a clássica repugnância à inação em momentos críticos. Mas a procrastinação logo adquiriu um novo significado terrível: os cristãos usaram o termo para lembrar aos pecadores que adiar o arrependimento de seus maus caminhos pode levar à condenação. Um sermão de 1553 falou das terríveis consequências para "aquele que prolonga ou procrastina a confissão dos pecados", enquanto um tratado de 1582, sobre "A Loucura dos Homens", advertia: "Portanto, prestem atenção ao procrastinar o arrependimento… com intencionalidade e propósito; não tentem o Senhor".
Com o alvorecer da Revolução Industrial, o moralismo cristão se fundiu com as buscas comerciais. A procrastinação não só previne a salvação na próxima vida, mas também o objetivo do bem-estar financeiro nesta. Assim, os males da procrastinação chegaram aos adágios frequentemente repetidos da nova era capitalista. "A procrastinação é o ladrão do tempo", escreveu o poeta inglês Edward Young, em 1742. Poucos anos depois, Philip Stanhope, o conde de Chesterfield, escreveu estas palavras: "Sem ociosidade, sem preguiça, sem procrastinação; nunca deixe para amanhã o que você pode fazer hoje". Ben Franklin é creditado com um ditado similar, transformado ironicamente por Mark Twain no lema do procrastinador: "Nunca deixe para amanhã o que você pode fazer depois de amanhã".
Extraído de: How we got a word for putting things off, SLATE
N. do T.
Encontrei na web frases como estas (em espanhol):
• "Lo mío no es procrastinar, es perendinar."
• "Yo prefiero perendinar que procrastinar. En dos días te cuento."
• "Ya lo dice el refrán: no procrastines lo que puedas perendinar."
Origen: del latín perendinare, "dejar para el día después del siguiente".
Lo bueno de un diccionario como el nuestro (sinfaltas.com) es que permite recoger palabras que quizá no tengan uso real, pero que se proponen en las redes para cubrir huecos semánticos. Un buen ejemplo es perendinar, palabra que circula por la red para referirse a la acción que va más allá de procrastinar. Ha tenido 1700 visitas en 5 meses.
E cá estou a cobrir um oco semântico em português ao trazer para a nossa língua o verbo "perendinar" e as palavras que venham a derivar dele.
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