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28 janeiro, 2021

O processo da anidrobiose

por Thomas Boothby
Sem água, um ser humano sobrevive por apenas 100 horas. Mas há um criatura tão resiliente que pode ficar sem água por décadas. Esse animal de um milímetro consegue sobreviver tanto nos ambientes mais quentes quanto nos mais gelados da Terra, e conseguem resistir a altos níveis de radiação. Este é o tardígrado, e é uma das criaturas mais resistentes da Terra, mesmo parecendo mais com um urso de goma (de gelatina) gordinho de oito pernas. A maioria dos organismos precisa de água para sobreviver. A água permite que ocorra o metabolismo, que é o processo que inicia todas as reações bioquímicas que acontecem nas células. Mas criaturas como o tardígrado, também conhecido como urso d'água, driblam essa restrição com um processo chamado anidrobiose, palavra vinda do grego que significa vida sem água. 

E por mais extraordinário que seja, os tardígrados não estão sozinhos. As bactérias, os organismos unicelulares chamados de archaea, plantas (a rosa-de-Jericó, por exemplo) e mesmo outros animais sobrevivem à seca. Para muitos tardígrados, isso exige que eles passem por algo chamado estado tonel. Eles enrolam-se como uma bola, puxando sua cabeça e suas oito pernas para dentro do corpo e esperam até que a água retorne. Pensa-se que, enquanto a água torna-se escassa e os tardígrados entram no estado tonel, eles começam a sintetizar moléculas especiais, que enchem as células dos tardígrados para substituir a água perdida formando uma matriz. Os componentes das células que são sensíveis à desidratação, como o DNA, as proteínas e membranas ficam presas nessa matriz. Pensa-se que isto mantém estas moléculas presas em posição para impedi-las de desenrolarem-se, desintegrarem-se ou fundirem-se. Assim que o organismo é reidratado, a matriz dissolve-se, deixando para trás células intactas e funcionais. Além da aridez, tardígrados também toleram outros estresses extremos: serem congelados, aquecidos além do ponto de ebulição da água, altos níveis de radiação, e até o vácuo do espaço sideral. Isso levou a especulações errôneas como a de que tardígrados são seres extraterrestres. Apesar de ser um pensamento divertido, evidências científicas colocam como certa sua origem na Terra, onde evoluíram com o tempo. Na verdade, essa evolução terrestre trouxe mais de 1,1 mil espécies conhecidas de tardígrados e, provavelmente, ainda há muitas outras a serem descobertas. E por serem tão resistentes, eles existem em quase todo lugar. Eles vivem em todos os continentes, incluindo a Antártida. E estão em diversos biomas incluindo desertos, mantos de gelo, no mar, água doce, florestas úmidas, e nos picos mais altos das montanhas. Mas você também pode encontrar tardígrados nos lugares comuns, como em musgos ou líquens em jardins, parques e florestas. Você só precisa de um pouco de paciência e um microscópio. Cientistas estão tentando descobrir se os tardígrados usam o estado tonel, a técnica antidesidratação, para sobreviver a outros estresses. Se conseguirmos entender como essa e outras criaturas estabilizam suas moléculas biológicas sensíveis, talvez possamos aplicar este conhecimento para estabilizar vacinas, ou para desenvolver colheitas que tolerem o clima instável da Terra. E estudando como os tardígrados sobrevivem à exposição prolongada ao vácuo do espaço sideral, os cientistas podem achar pistas sobre os limites ambientais da vida e como proteger astronautas. Nesse processo, os tardígrados podem nos ajudar a responder uma questão decisiva: é possível que a vida subsista em planetas muito mais hostis que o nosso?
Os grifos são nossos.

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