"Dê-nos nossos onze dias!". Os tumultos do calendário inglês de 1752
Os onze dias aqui referidos são os 11 dias "perdidos" de setembro de 1752, quando a Grã-Bretanha mudou do calendário juliano para o calendário gregoriano, aproximando o país da maior parte da Europa.
O calendário gregoriano é o calendário internacional de hoje, com o nome do homem que primeiro o apresentou em fevereiro de 1582, o papa Gregório XIII. (*)
Antes de 1752, a Grã-Bretanha e seu Império seguiram o calendário juliano, implantado por Júlio César em 46 a.C. No entanto, este calendário tinha um erro de 1 dia incorporado a cada 128 anos, devido a um erro de cálculo do ano solar em 11 minutos. Isso afetava a data da Páscoa, tradicionalmente observada em 21 de março, com a data a se afastar do equinócio da primavera a cada ano que passava.
Para superar esse problema, o calendário gregoriano foi apresentado. Este é um calendário solar, com base em um ano de 365 dias dividido em 12 meses. Cada mês consiste em 30 ou 31 dias com um mês, fevereiro, que consiste de 28 dias. Um ano bissexto adiciona a cada 4 anos um dia extra a fevereiro, que fica com 29 dias.
Os primeiro a adotarem o novo calendário (em 1582) foram a França, Itália, Polônia, Portugal e Espanha. A Turquia foi o último país a mudar oficialmente para o novo sistema, em 1º de janeiro de 1927.
A Lei do Calendário de 1750 introduziu o calendário gregoriano no Império britânico, aproximando a Grã-Bretanha da maior parte da Europa Ocidental.
A sua introdução não foi imediata. Isso significou que o ano de 1751 foi um ano curto, que durou apenas 282 dias a partir de 25 de março (ano novo no calendário juliano) até 31 de dezembro. O ano de 1752 começou em 1º de janeiro.
Permaneceu o problema de alinhar o calendário em uso na Inglaterra com o que estava em uso na Europa. Era necessário corrigi-lo em 11 dias: os "dias perdidos". Foi decidido que a quarta-feira, 2 de setembro de 1752, seria seguido pela quinta-feira, 14 de setembro de 1752.
As reivindicações de uma agitação civil que exigiam "Dê-nos nossos onze dias" podem ter surgido de uma interpretação errada de
uma pintura contemporânea de William Hogarth. Sua pintura de 1755, intitulada "Um entretenimento eleitoral", referia-se às eleições de 1754 e retrata um jantar de taberna organizado por candidatos Whig. Um banner roubado da campanha Tory, com o slogan "Dê-nos nossos onze dias", pode ser visto na pintura.
A mudança do calendário foi, de fato, uma das questões debatidas na campanha eleitoral de 1754 entre os Whigs e os Tories.
Também é verdade que quando o governo britânico decidiu alterar o calendário e ignorar esses 11 dias, muitas pessoas acreditaram erroneamente que suas vidas seriam reduzidas em 11 dias. As pessoas também se mostraram desconfiadas com a movimentação dos dias de santos e dos dias sagrados, incluindo a data da Páscoa.
No entanto, a maioria dos historiadores atualmente acredita que esses protestos nunca aconteceram. Você poderia dizer que os manifestantes do calendário foram o equivalente georgiano de um mito urbano.
Nem todos ficaram descontentes com o novo calendário. De acordo com WM Jamieson, em seu livro
"Murders Myths and Monuments of North Staffordshire", há um conto sobre um William Willett de Endon. Sempre interessado em fazer piada, ele apostou que poderia dançar sem parar por 12 dias e 12 noites. No início da noite de 2 de setembro de 1752, ele começou a saracotear em sua aldeia e assim continuou durante toda a noite. Na manhã seguinte, 14 de setembro, pelo novo calendário, ele parou de dançar e reivindicou o recebimento de suas apostas!
N. do E.
(*) Curiosidade - O calendário gregoriano foi, na verdade,
proposto por Aloysius Lilius, um médico de Nápoles.
Ver também:
Uma longa noite de morte, mas não necessariamente de agonia.