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22 setembro, 2024

A história de "Lapinha"

Baden Powell, em 1968, já desfrutava de bastante prestígio, principalmente por suas parcerias com Vinícius de Moraes. No entanto, relata o blogueiro Luís Pini Nader, "queria sangue novo para um novo festival, a I Bienal do Samba. Foi à casa do primo, João de Aquino, e roubou-lhe o parceiro, o precoce e já maduro letrista Paulo César Pinheiro, então com 16 anos e ainda imberbe".
Baden mostrou-lhe um samba de roda que aprendera na Bahia com seu amigo e capoeirista, Canjiquinha. O tema havia sido composto pelo lendário Mestre de capoeira Besouro Cordão de Ouro, famoso tanto por suas composições quanto pela coragem de enfrentar a polícia e revoltar-se contra os desmandos dos senhores.
Paulo César Pinheiro já havia lido no romance "Mar Morto", de Jorge Amado, algumas histórias do Mestre capoeirista que voava como um besouro para escapar da polícia.
Percebendo que o momento era propício para aquele resgate, os compositores fizeram uma segunda parte para a música do Besouro (Quando eu morrer me enterrem na Lapinha / Calça culote, paletó almofadinha), exaltando o homem que, mesmo só contra o erro lutava e, ante a derrota, não se conformava. E assim nasceu "Lapinha", (*) uma das mais brilhantes parcerias da música brasileira.
Inscrita no festival, por absoluta ignorância dos organizadores, "Lapinha" quase foi desclassificada por plágio. Obviamente, tratava-se de uma citação literal, uma homenagem explícita ao canto do Besouro, sem a malícia que caracterizaria o plágio.
Depois de alguma argumentação, a canção pôde seguir no festival, defendida por Elis Regina, Mussum e "Os Originais do Samba" (vídeo), até ser premiada com o 1.º lugar.
Dentre os argumentos utilizados para convencer os organizadores a manterem "Lapinha" no páreo, estaria o fato de outra canção do Besouro ter sido citada numa música de Noel Rosa.
Eis os versos do Besouro: "Quando eu morrer, disse Besouro/ Não quero choro nem vela / Também não quero barulho / Na porta do cemitério / Eu quero meu berimbau / Eu quero meu berimbau / Com uma fita amarela / Gravado com o nome dela".
Qualquer semelhança com "Fita Amarela" não é mera coincidência. Ao que se saiba, no entanto, o Poeta da Vila jamais foi acusado de plágio.
N. do E.
(*) Lapinha, também bairro de Salvador, reduto de capoeiristas e sambistas na década de 1920.
http://www.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_lblYFZNe9bvRUXYLYNlhL4t3BHkLqKVOs (playlist do álbum Capoeira do Besouro) 
Trecho do espetáculo "Besouro Cordão de Ouro", gravado no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro: http://youtu.be/Zj4nDthW23w?si=7_GlM5TRYFe-n50l (vídeo)
"Besouro", o filme completo (2009): http://youtu.be/NhrSIxqDSEw?si=fz-XedQOyVWovrZf (vídeo)

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