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16 dezembro, 2023

Dos tempos heroicos da bossa nova

O cantor e compositor Carlos Eduardo Lyra Barbosa, ícone dos tempos heroicos da bossa nova (para citar uma expressão de Ruy Castro), morreu aos 90 anos, neste sábado, 16. Ele estava internado na UTI do Hospital Unimed Barra, no Rio de Janeiro, para o tratamento de uma septicemia.
Carioca do bairro de Botafogo, ele nasceu em 11 de maio de 1933. Ainda aluno do antigo segundo grau – o que hoje se chama de ensino médio – conheceu o compositor Roberto Menescal, com quem montou uma Academia de Violão, por onde passaram nomes como Marcos Valle, Edu Lobo e Nara Leão.
Ele entrou para o rol de ícones da bossa nova, ao lado de parceiros como Ronaldo Bôscoli, a dupla Tom Jobim e Vinícius de Moraes e o intérprete João Gilberto, todos representados no álbum "Chega de Saudade", lançado em 1959 e que consolidou o novo estilo musical para o porvir.
Carlos Lyra é autor de canções de sucesso, como "Você e Eu", "Coisa Mais Linda", "Influência do Jazz" (no vídeo abaixo de música instrumental, com ele ao violão e orquestra), "Maria Ninguém", "Minha Namorada", "Primavera", "Lobo Bobo", "Marcha da Quarta-Feira de Cinzas", "Saudade Fez um Samba", "Se é Tarde me Perdoa", "Feio não é Bonito", "Samba do Carioca", entre outras.
Teve passagem também como diretor musical do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE). Foi um período em que entrou em contato com compositores populares como Zé Keti, Cartola, Nelson Cavaquinho, Elton Medeiros e João do Vale. O hino da UNE é uma parceria de Lyra com Vinicius de Moraes.

(Ruy Castro, FOLHAPRESS) - Seja como for, esse corpo de canções, produzido em tão pouco tempo, foi suficiente para sustentar Carlos Lyra pelos 50 anos seguintes - período em que, por vários motivos, sua produção não se comparou à dos tempos heroicos da bossa nova. O que fez com que seu mais antigo parceiro (e cordial desafeto) Ronaldo Bôscoli assim o definisse: "Carlinhos Lyra é o contrário do vinho. Quanto mais moço, melhor".
Bôscoli sabia o que dizia. Os dois juntos, e mais uma plêiade de garotos por volta dos 20 anos, compunham uma turma que, naquela época, passava as noites no apartamento da quase adolescente Nara Leão, na avenida Atlântica, em Copacabana, para tocar violão, trocar acordes, cantar suas composições, rir muito e filar o uísque do dono da casa, pai de Nara. No futuro, dir-se-ia que a bossa nova nascera no apartamento de Nara. Mas Carlinhos, que vinha da pré-história do novo ritmo, sempre negou que tivesse sido assim. E acrescentava: "Nem a Nara nasceu no apartamento da Nara".

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