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09 março, 2022

Padre Himalaia

Foi o inventor português que ganhou o grande prêmio da exposição universal de St. Louis, nos Estados Unidos. O seu sucesso foi de tal ordem, que, recusadas todas as tentativas de compra, o colossal aparelho acabou por ser roubado, para nunca mais aparecer. Hoje, poucos ouviram falar desta invenção e do seu criador.

Mas vamos por partes. A exposição universal de St. Louis, em 1904, foi a maior, mais dispendiosa e grandiosa delas até então. E, nessa mesma exposição, todas as atenções se centraram numa invenção portuguesa multipremiada. Essa invenção era o pirelióforo [do grego: pyros, "fogo" + helios, "sol" + pheros, "que traz"].

O aparelho era imponente: sua grande parábola refletora tinha 13 m de altura, uma distância focal média de 10 m e uma área refletora de 80 m², revestida por 6 117 espelhos cuidadosamente montados sobre a estrutura metálica. Cada espelho consistia de vidro plano recoberto por uma película de prata.

A estrutura óptica estava instalada sobre uma montagem equatorial que lhe permitia rodar sobre um eixo paralelo ao eixo de rotação da Terra. Um mecanismo de relojoaria mantinha o espelho apontado para o Sol, seguindo automaticamente e com grande precisão o seu movimento aparente. A radiação solar refletida era concentrada num círculo com 15 cm de diâmetro centrado no foco da parábola, o que correspondia a um fator geométrico de concentração de aproximadamente 4 500 vezes.

Utilizava-se da luz solar, concentrando-a e multiplicando-a de modo a atingir temperaturas elevadas, na ordem dos 3800ºC, sendo capaz de fundir metal ou rocha sem dispêndio de energia. O sistema era inovador, especialmente num contexto em que numerosos ramos da indústria procuravam opções por energias renováveis e limpas.

Este prodígio foi criado por Manuel António Gomes [1868 - 1933]. A sua elevada estatura levou a que os colegas de seminário lhe dessem a alcunha de Himalaia, que ele adotou informalmente, passando a utilizá-la como se fora parte do seu nome. Por essa razão, Manuel António Gomes passaria à posteridade como o «Padre Himalaia», o «Padre Himalaya» na grafia da época. 

A sua participação na exposição universal só foi possível graças ao apoio de mecenas que ele angariou, já que o Estado Português decidiu contribuir apenas com “apoio moral”. O júri internacional atribuiu o primeiro lugar ao seu invento, bem como duas medalhas de ouro e uma de prata aos financiadores do projeto. A notícia foi destaque nos jornais dos Estados Unidos, e o padre Himalaia passou ainda longos meses nos Estados Unidos, divulgando suas descobertas em palestras.

Diz-se que, ainda durante a exposição, o inventor rejeitou várias ofertas por seu invento, como os japoneses que chegarem a lhe oferecer 350 contos pelo aparelho. Mal o invento tinha acabado de ser montado, e já um "sindicato de capitalistas" queria construir uma vedação à volta deste, de modo a obrigar quem quisesse vê-lo a pagar bilhete, algo que o padre Himalaia também recusou. Pensa-se que o sucesso do aparelho e a recusa do inventor em vendê-lo levaram a seu roubo, apesar das suas dimensões.

Depois de tantos anos de pesquisa, o desaparecimento do pirelióforo deve ter sido um golpe de peso para o inventor, que nunca mais se dedicou ao invento. Não muitos anos depois, começaram a surgir, nos Estados Unidos, réplicas de pequena dimensão da máquina criada pelo padre Himalaia, com o mesmo funcionamento, mas usadas para fins distintos.

Matéria originalmente postada no Quora por Rúben Marquês, que mora em Portugal. Aqui o texto foi acrescido de algumas passagens da Wikipedia.

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