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12 abril, 2021

O julgamento de Frineia

Ficou famoso o caso de Frineia, cuja formosura despertou paixões e ciúmes. Acusada de explorar o próprio corpo por um pretendente desprezado, a cortesã foi levada a um júri de cidadãos ilibados de Atenas.
Mesmo com sua preparação e esforço, o talentoso Hiperides, um dos dez oradores áticos (eram uma espécie de advogados da Antiguidade clássica), não estava conseguindo convencer o júri.
No momento da sentença, os jurados botaram o polegar para baixo. Era a condenação fatal.
Olavo Bilac tem um poema dedicado a esse julgamento dramático. Segundo o poeta, ela despiu os véus que a cobriam e surgiu toda nua, "no triunfo imortal da Carne e da Beleza".
São estes os versos finais do poema:
Pasmam subitamente os juizes deslumbrados,
- Leões pelo calmo olhar de um domador curvados:
Nua e branca, de pé, patente à luz do dia
Todo o corpo ideal, Frinéia aparecia
Diante da multidão atônita e surpresa,
No triunfo imortal da Carne e da Beleza.
Diante daquela monumental escultura, "um a um os polegares dos juízes foram subindo, subindo, sendo provável que também subissem outras partes dos respeitáveis membros do júri".
(Os créditos de tais detalhes pertencem Carlos Heitor Cony.)


A verdade é que a história do julgamento de Frineia foi recriada com base em poucas passagens de escritos da época e relatos de autores que não estiverem presentes. Sabe-se que o julgamento ocorreu e que o discurso de Hipérides em sua defesa foi um dos mais admirados da Antiguidade, mas dele restam apenas alguns fragmentos.
Nada disso impediu que o dramático julgamento inspirasse várias obras de arte, desde pinturas como as que ilustram esta postagem de Jean-Léon Gérôme (1861) e várias outras, até esculturas de artistas como o americano Albert Weine.
Além de Olavo Bilac, poetas como Charles Baudelaire, Francisco de Quevedo e Rainer Maria Rilke escreveram pensando em Frinéia, o francês Camille Saint-Saëns criou uma ópera que leva seu nome, e o italiano Mario Bonnard dirigiu um filme sobre a cortesã.
No Brasil, Adelino Moreira compôs "Escultura", que alcançou grande sucesso na voz de Nelson Gonçalves. Neste samba-canção, ao criar em sua imaginação uma mulher que atingisse a perfeição, Adelino não foi buscar em Frineia o atributo da beleza e sim o da malícia.

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