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21 janeiro, 2021

Nomeando espécies que não existem - 2

Extraído de: Taxonomania: An Incomplete Catalog of Invented Species, The Mit Press Reader
Em 1978, o Jornal da Associação Herpetológica da África, um jornal dedicado ao estudo científico de répteis e anfíbios, publicou a descrição de Rana magnaocularis, o "sapo de olhos arregalados". O autor fictício é Rank Fross, do Loyal Ontario Museum, um malapropismo do Royal Ontario Museum, em Toronto.
É um artigo curto, com pouco mais de uma página, composto com a estrutura e o estilo de uma descrição legítima da espécie.
Ele começa da seguinte forma: "A coleta noturna nas estradas de Ontário revelou uma nova espécie de sapo, caracterizada por olhos enormes e um corpo achatado. A espécie é descrita abaixo e o significado adaptativo de suas características diagnósticas é discutido".
O diagnóstico: "Olhos enormes, língua saliente geralmente estendida, corpo e membros altamente achatados dorso-ventralmente. Prega lateral do dorso ausente. Caso contrário, se assemelharia a Rana pipiens".
Os espécimes podem ser encontrados regularmente nas movimentadas estradas pavimentadas, especialmente na primavera.
A seção de discussão é particularmente divertida.
Por que o corpo é tão achatado e seus olhos são tão grandes?
Acreditamos que sejam adaptações ao habitat peculiar. Normalmente, os sapos estão pelo menos parcialmente escondidos dos predadores em potencial por juncos, grama ou arbustos. Na estrada, no entanto, eles estão completamente expostos. Ao desenvolver um corpo bidimensional, o sapo de olhos arregalados é capaz de escapar da atenção de todos os predadores, exceto daqueles que surgem imediatamente acima. [...]Como ele se move?A princípio, ficamos intrigados com a maneira como ele se deslocaria de um lugar para outro, por faltar a observação de espécimes vivos. A analogia com a cobra do arco ofereceu uma hipótese: os sapos se enrolariam em um anel e, utilizando-se da língua extrudida, eles se movem ordenadamente, engatando-a na superfície da estrada.
Em nenhum lugar, a publicação declara que Rana magnaocularis é um conceito hipotético e, o que torna a situação ainda mais complicada, é o fato de a descrição ser baseada - pelo menos potencialmente - em um animal real e físico.

Nomeando espécies que não existem - 1

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