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08 julho, 2019

O trabalho dos astrônomos da ilha voadora de Laputa

Ilustração: J.J. Grandville
Um livro de ficção antigo - "Viagens de Gulliver", a lendária sátira de Jonathan Swift - apresenta uma surpreendente referência às luas de Marte. Apesar de bastante breve, nada mais do que meio parágrafo, é surpreendente que aquele livro de Swift tenha sido publicado em 1726 - mais de 150 anos da descoberta das duas luas pelo astrônomo Asaph Hall!
Na parte III de sua longa sátira, Swift coloca seu herói, Gulliver, na ilha flutuante de Laputa onde astrônomos estão trabalhando duro para mapear o firmamento. Sobre os astrônomos e sobre seu trabalho, Gulliver afirma:
Eles catalogaram dez mil estrelas fixas (...) Da mesma forma, eles descobriram duas estrelas menores, ou "satélites", que giram ao redor de Marte, das quais a mais interna está distante do centro do planeta exatamente três vezes seu diâmetro, e a mais externa, cinco. A primeira completa uma volta em dez horas, enquanto a segunda, em vinte e uma horas e meia.
A maior parte dos teóricos acredita que Swift "tomou emprestadas" as informações sobre os satélites de Marte dos cálculos realizados por Johannes Kepler, o descobridor das leis do movimento dos planetas, no século XVI, que também recebe os créditos, com frequência, por ter descoberto as luas de Marte. De qualquer forma, Kepler meramente especulou que o Planeta Vermelho teria duas luas, tendo como base para isso a crença de que Vênus não teria nenhum satélite natural e a Terra tinha uma, então, Marte deveria ter  duas. Havia uma ideia de que cada planeta consecutivo possuiria uma lua adicional. Essa crença ganhou força quando as quatro maiores luas de Júpiter foram descobertas. Mercúrio ainda era desconhecido e o (hipoteticamente) quinto planeta em ruínas, no qual o cinturão de asteroides está localizado, teria três luas, segundo este sistema de raciocínio. Hoje sabemos que essa "lei" planetária não faz sentido, mas Kepler poderia não ter esse conhecimento.
Isso, no entanto, cria um paradoxo: se Kepler não tinha informações específicas relacionadas às duas luas de Marte, como então Swift chegou aos cálculos apresentados em "Viagens de Gulliver"? Para reafirmar, ele comentou sobre a lua interna viajar ao redor do planeta em dez horas e a lua externa em 21 horas e meia. O tempo de órbita verdadeiro para cada lua é: Fobos, sete horas e quarenta e nove minutos; Deimos, trinta horas e dezoito minutos.
Em um artigo na Persuit, a publicação da Sociedade de Investigação do Inexplicado, o ex-diretor Robert J. Durant escrever: "No quesito exatidão, Swift deixa algo a desejar, mas seus números são, de qualquer forma, bastante aproximados. Qualquer um da mesma época na história [daquela era da astronomia] dificilmente conseguiria apontar falhas em Swift".
É possível que exista um registro antigo, em algum lugar, documentando a órbita e a posição de cada lua de Marte. Sobre tudo o que está fora de nossos tempos, nosso conhecimento em história é terrivelmente incompleto; o que sabemos de nosso próprio passado distante são hipóteses criadas a partir de uma estrutura de crenças cuidadosamente cultivada. Podemos ter subido e caído, repetidamente, com cada civilização redescobrindo o conhecimento do passado. O sistema solar pode ter sido mapeado e explorado, e até mesmo colonizado, em eras anteriores. Evidências disso, se existiram, provavelmente seriam encontradas  em Marte, ou mesmo em um de seus pequenos satélites.

UFOs: o último grande segredo / Curt Sutherly. São Paulo, Universo dos Livros, 2009. p.85-87

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