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20 fevereiro, 2016

Legado

Carlos Drummond de Andrade

Que lembrança darei ao país que me deu
tudo que lembro e sei, tudo quanto senti?
Na noite do sem fim, breve o tempo esqueceu
minha incerta medalha, e a meu nome se ri.

E mereço esperar mais do que os outros, eu?
Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.
Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu,
a vagar, taciturno, entre o talvez e o se.

Não deixarei de mim nenhum canto radioso,
uma voz matinal palpitando na bruma
e que arranque de alguém seu mais secreto espinho.

De tudo quanto foi meu passo caprichoso
na vida, restará, pois o resto se esfuma,
uma pedra que havia em meio do caminho.

Bônus
No último verso deste soneto, "Legado", Drummond faz uma referência a outro poema também seu, "No meio do caminho". Leia "No meio do caminho" aqui, traduzido para o latim  ("Media in via") e para o inglês ("In the middle of the road").

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