De origem humilde, ele é considerado o primeiro e único presidente negro do Brasil.
Mas naquele início de século 20, com a preponderância de teorias racistas e uma ideia de embranquecimento da população, sua própria identidade racial se tornou objeto de controvérsia. "Rigorosamente, ele era um mestiço", define à BBC News Brasil o historiador Petrônio Domingues. Hoje, pelas categorias oficialmente utilizadas pelo IBGE, ele seria classificado como pardo.
Peçanha governou o país em um período profundamente marcado pelo racismo científico. Doutrinas como a frenologia e a eugenia ganhavam força no país, legitimando teorias que buscavam justificar a marginalização de pessoas negras e mestiças.
Na imprensa, era caricaturado em charges e anedotas que enfatizavam sua cor de pele de maneira depreciativa.
A conjuntura era do favorecimento da vinda de imigrantes estrangeiros para o Brasil, na ideia de que europeus brancos iriam, de certa forma, trazer o progresso para o Brasil. E de que a raça negra iria perdendo força, desaparecendo, a partir da miscigenação com a raça branca, também superior.
Nascido em Campos dos Goytacazes, no norte fluminense, teve uma infância pobre com seis irmãos em um sítio. A família se mudou para a cidade quando Peçanha chegou à idade escolar. Ele estudou Direito na Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo, mas acabou concluindo o curso na Faculdade do Recife.
Seu casamento chocou a sociedade da época: a noiva, Ana de Castro Belisário, a Anita, era de família rica de Campos dos Goytacazes, neta de um visconde e bisneta de dois barões. Anita chegou a fugir de casa para concretizar a união, um escândalo social que refletia as barreiras impostas pelas estruturas raciais e de classe da época.
Questões pessoais à parte, Peçanha trilhava uma sólida carreira política. Em 1890, reconhecido por seu engajamento nas lutas abolicionista e republicana, foi eleito para a Assembleia Constituinte que redigiu a primeira Carta Magna da República.
Foi deputado até 1902. No ano seguinte, tornou-se presidente do Rio de Janeiro — cargo equivalente ao atual governador. Em 1906 foi eleito vice-presidente da República. Apesar de circular em meios políticos dominados por brancos, parte da opinião pública o questionava, associando o fato de ele ser negro a eventuais dificuldades em sua capacidade de conduzir o país.
Museu da República
Paradoxalmente, quando Peçanha alcançou destaque na política nacional, a elite brasileira, alinhada com os ideais de branqueamento, tentou "corrigir" sua imagem. Fotografias oficiais e retratos eram manipulados para clarear sua pele e aproximá-lo dos padrões eurocêntricos, numa tentativa de apagar qualquer traço de diversidade racial em figuras públicas de prestígio.
Em sua passagem pelo Palácio do Catete, deixou duas marcas importantes. Foi ele quem criou o Serviço de Proteção aos Índios, órgão que antecedeu a atual Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). E também quem fundou a Escola de Aprendizes Artífices, que é considerada a precursora do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet). E por causa disso em 2011 ele foi homenageado com uma lei federal que o tornou o patrono da educação profissional e tecnológica no Brasil.
Nilo Peçanha morreu em 1924, vítima de um problema cardíaco causado pela doença de Chagas. Há dois municípios brasileiros que o homenageiam com o nome: Nilo Peçanha, na Bahia, e Nilópolis, na região metropolitana do Rio.
Extraído de: VEIGA, Edison. Quem foi o 1.º e único presidente negro do Brasil. In: BBC News Brasil
Em sua passagem pelo Palácio do Catete, deixou duas marcas importantes. Foi ele quem criou o Serviço de Proteção aos Índios, órgão que antecedeu a atual Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). E também quem fundou a Escola de Aprendizes Artífices, que é considerada a precursora do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet). E por causa disso em 2011 ele foi homenageado com uma lei federal que o tornou o patrono da educação profissional e tecnológica no Brasil.
Nilo Peçanha morreu em 1924, vítima de um problema cardíaco causado pela doença de Chagas. Há dois municípios brasileiros que o homenageiam com o nome: Nilo Peçanha, na Bahia, e Nilópolis, na região metropolitana do Rio.
Extraído de: VEIGA, Edison. Quem foi o 1.º e único presidente negro do Brasil. In: BBC News Brasil

Nenhum comentário:
Postar um comentário