Páginas

13 agosto, 2023

O violão jobiniano

Apesar de ser mais um pianista e orquestrador, é marcante a quantidade de fotos de Jobim em que o violão ocupou um espaço nobre na vida do maestro. Desde a adolescência, ao lado da irmã Helena Jobim, até as apresentações com Frank Sinatra em TVs americanas, Jobim utilizou-se de um violão. E também em gravações antológicas, a exemplo do disco "The Astrud Gilberto Album", ou nos ensaios filmados por Roberto de Oliveira para o LP "Elis e Tom", acertando nuances de "Chovendo na Roseira", o violão estava lá.
Foi num violão também que nasceu "Águas de Março". Debruçado nele, Tom Jobim tomava as primeiras anotações num papel de embrulho de pão. Estava numa casinha de pau-a-pique, num lugar chamado Poço Fundo, no estado do Rio de Janeiro, onde costumava passar finais de semana, enquanto sua nova casa estava sendo construída. Essa história, contada em detalhes por sua irmã Helena no livro "Um Homem Iluminado", aconteceu em março de 1972.


Assim como não dava pra levar o piano para o barraco de Poço Fundo, Tom também não deve ter encontrado teclado algum em Brasília, ainda em construção. Com a encomenda de compor a "Sinfonia do Alvorada", os dois parceiros gostavam de andar em pleno cerrado, no Catetinho, em 1958. Por sinal, uma das fotografias dessa viagem, com Vinícius caminhado pelo mato ao lado de Tom, e este carregando um violão sobre o ombro direito, inspirou a estátua de bronze do maestro, instalada em 2014 na orla de Ipanema, no Rio.

10/05/2022 - Aqui, eu mal e tristemente substituo o poeta Vinicius, na foto da estátua de Tom.

Certa vez, a caminhada da dupla na mata ao redor do Palácio do Catetinho é interrompida por um estranho som de água. Ao procurar o vigia encontram um candango espantado com a "ignorância" dos homens da cidade, "Cês não sabem, não? É água de beber, camará". A divertida resposta se tornou o sucesso da Bossa Nova "Água de Beber" que viria a ser regravado por artistas como Sergio Mendes, Al Jareau e Frank Sinatra.

[1] Extraído de: O violão jobiniano, por Alessandro Soares
[2] Água de Beber, no site Caixote

Nenhum comentário:

Postar um comentário