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13 fevereiro, 2023

A planta que evolui para se esconder dos predadores humanos

No sudoeste da China, no alto das montanhas Hengduan, está ficando mais difícil encontrar uma pequena planta.
Denominada Fritillaria delavayi, ela desenvolve de três a cinco folhas verdes brilhantes e um pequeno caule, e, uma vez por ano, produz uma flor brilhante em forma de tulipa, com tons amarelados. Mas aquela flor amarela atraente e aquelas folhas verdes vibrantes começaram a se tornar cinza e marrom nessa espécie do gênero Fritillaria. Cientistas suspeitam que a planta esteja desenvolvendo geneticamente partes descoloridas para se esconder de seu principal predador — nós, os seres humanos.
Em um estudo publicado na revista científica Current Biology, cientistas da China e do Reino Unido descobriram que em regiões onde a Fritillaria delavayi estava sendo colhida em grande número, a erva tinha mais probabilidade de se camuflar.
Enquanto algumas espécies de plantas não crescem tanto quando são colhidas em excesso — porque suas contrapartes maiores são colhidas antes de se reproduzirem — essa erva, utilizada na medicina tradicional chinesa para tratar doenças pulmonares como bronquite ou tosse, pode ser o primeiro exemplo de uma planta ameaçada de extinção evoluindo para se camuflar no ambiente em que vive.
Para testar essa teoria, os pesquisadores primeiro consultaram herboristas locais que mantinham seis anos de registros mostrando onde as plantas cresceram e quantas delas foram colhidas. Eles determinaram quais áreas já haviam sofrido colheitas excessivas e as áreas de mais fácil acesso — em comparação com aquelas localizadas em terrenos rochosos e montanhosos. Por meio de uma ferramenta denominada espectrômetro, que mede os comprimentos de onda de luz para determinar a coloração, eles avaliaram a cor das plantas em diferentes locais e encontraram uma correlação entre o número de colheitas de uma população em um determinado local e a sua cor.
Em áreas menos acessíveis, de baixa transitação humana, as plantas ainda eram de um verde e amarelo brilhantes, mas em locais onde os bulbos eram colhidos em grande número, as cores estavam ficando mais opacas.
"É um artigo muito legal e inovador”, comenta Matthew Rubin, biólogo evolucionista do Danforth Plant Science Center, instituto de pesquisa de plantas em St. Louis, Missouri, que não participou da pesquisa.
"Sabemos que milhares de anos atrás os humanos moldaram a aparência das plantas com a domesticação, a forma como criamos as plantas para consumi-las", acrescenta Rubin. "Esse é um ótimo exemplo de seleção causada por nós na natureza, documentando uma alteração e relacionando de forma bastante convincente essa mudança a uma pressão humana, nesse caso, a colheita."
Sarah Gibbens, National Geographic (11/02/2021)

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