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18 outubro, 2021

Civilidade do esgoto (em tempos difíceis)

Nesses tempos sombrios, onde aqueles que compartilham grupos de mídias sociais ficam trocando ofensas por causas que não entendem, bem como defendendo terceiros que nem sabem que eles existem e, se soubessem, não lhes dariam a mínima importância, vale um conselho muito útil dado por meu amigo calhorda: "Parem de mandar seus desafetos à merda!!!"
Segundo ele, quem muito sabia das coisas era o companheiro Victor Hugo. No seu grande livro "Os Miseráveis", Victor Hugo faz uma profunda análise dos esgotos de Paris àquela época e conclui: "O esgoto é um cínico, ele diz tudo." "... a história passa pelo esgoto."
Mais adiante, escreve: "Para quem passou seu tempo sendo obrigado, na terra, ao espetáculo dos grandes ares que tomam a razão de Estado, a promessa, o bom senso político, a justiça humana, as probidades profissionais, as austeridades de ocasião, as togas incorruptíveis, se torna um alívio entrar num esgoto e ver a lama correta."
Creio que se poderia traduzir assim: a lama que escorre das ações humanas pode ser mais pavorosa, nociva, fétida e imunda do que a lama formada pelos excrementos humanos.
Ainda segundo Victor Hugo, os atos de bravura dos construtores de esgoto seriam "...mais úteis que as matanças idiotas do campo de batalha."
Daí meu amigo calhorda tirou sua sábia conclusão: "Ao mandar um desafeto à merda, você está elevando-o a um patamar do qual ele não tem nenhum merecimento e, pior ainda, talvez esteja ofendendo muito uma merda que está quieta em seu lugar e nunca fez mal a ninguém, muito pelo contrário."
E completou o excelente conselho: "E não adianta mandar à PQP, por que esse pessoal não tem nem mãe!"
Fernando Gurgel Filho

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