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13 maio, 2021

Os chifres do "Moisés" de Michelangelo

Quando Moisés desce do Monte Sinai com as tábuas da Lei, está irreconhecível, tendo o rosto transformado pelo contato que teve com Deus. O termo hebraico utilizado para descrever a transformação no rosto de Moisés é ... uma palavra que pode ter dois sentidos de tradução: pode se referir à luz, vindo a ser traduzida como "seu rosto resplandecia", ou pode ainda se referir a chifres, vindo a ser traduzida como "de seu rosto brotavam chifres".
A ideia de que haveria uma referência a chifres brotando da cabeça de Moisés foi seguida por Jerônimo, que traduziu o termo valendo-se da palavra latina "cornuta", o que deixou a interpretação bastante conhecida no mundo latino. Acontece, porém, que devido à percepção de algumas divindades pagãs cornudas como demônios, principalmente durante o cristianismo primitivo (especialmente o deus Pã), além de uma tradição de conexão entre Satanás e o bode que remonta ao texto de Levítico, pode-se dizer que ter chifres não é considerado algo bom para os cristãos. Não foi à toa, portanto, que a tradução de Jerônimo serviu como fonte de inspiração para representações de caráter antissemítico ao longo da história.
Por outro lado, a interpretação de Moisés portando chifres é "compartilhada por uma corrente dentro da tradição judaica", ou seja, não é necessariamente negativa. Nesta tradição judaica, portanto, de modo muito diferente da perspectiva cristã tradicional, os chifres possuem um caráter bastante positivo, elevando Moisés, de modo quase literal - afinal, trata-se de uma tradição judaica a respeito da subida de Moisés até o céu, primeiramente indicada por Rimon Kasher.
http://revista.faculdadeunida.com.br/index.php/reflexus/article/view/441/417

Uma explicação para o sucedido poderá ser a tradução errada de "karan" (baseado na raiz "keren", que geralmente significa "chifre"; o termo é atualmente interpretado como significando "radiando" ou "emitindo raios") feita por São Jerônimo para o latim.

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