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10 janeiro, 2021

Por que andamos

Um manifesto pelo empoderamento peripatético:


1 Um resgate da palavra francesa flâneur (masculina; feminina: flâneuse), para quem vagueia numa urbe, popularizada na primeira metade do século XX. Elkin escreveu: "O flâneur entende a cidade como poucos de seus habitantes, pois a memorizou com os pés. Cada esquina, beco e escada tem a capacidade de mergulhá-lo nessa recuperação. O que aconteceu aqui? Quem passou por aqui? O que significa este lugar? O flâneur, sintonizado com os acordes que vibram por toda a cidade, sabe sem saber".

2 Caminhar é mapear com os pés. Ajuda você a compor uma cidade, conectando bairros que, de outra forma, poderiam permanecer entidades distintas, diferentes planetas ligados entre si, sustentados e remotos. Eu gosto de ver como, de fato, eles se misturam, eu gosto de perceber os limites entre eles. Caminhar me ajuda a me sentir em casa. Há um pequeno prazer em ver o quão bem eu conheço a cidade através de minhas andanças, atravessando diferentes bairros da cidade, alguns que eu conhecia muito bem, outros que eu não via há algum tempo, como me familiarizar com alguém que conheci em uma festa.

3 Às vezes, eu ando porque tenho coisas em mente, e caminhar me ajuda a resolvê-las. Solvitur ambulando, dizia Santo Agostinho. Ao ouvir esta frase, Bruce Chatwin imediatamente tomou nota. E Diógenes, o Cínico, respondeu aos paradoxos de Zenão sobre a irrealidade do movimento, levantando-se e indo embora. Usem esta conduta do filósofo grego para lidar com os "bolsomitos". Simples assim.

Why We Walk, Brain Pickinks
Flâneur, Wiki
Solvitur ambulando, Wiki

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