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25 setembro, 2020

O rei do besteirol

O filósofo Harry G. Frankfurt escreve em seu livro "On Bullshit" (Sobre falar merda) que o bullshitter é pior que o mentiroso, porque este último ainda tem pelo menos uma conexão com a verdade que ele nega. Já o bullshitter não se importa com nada. Ele diz qualquer absurdo para agradar seus seguidores e satisfazer sua vaidade. Ele nunca admite dizer (ou fazer) besteira, apesar de 99% das histórias que conta contradizerem ou não fazerem absolutamente nenhum sentido.

Um dos exemplos de Frankfurt remete-nos a um orador do Quatro de Julho, data da independência americana -- um correspondente brasileiro seria facilmente encontrado. Em um inflamado discurso, o homem dirá: "Somos um grande e abençoado país, cujos fundadores, sob orientação divina. criaram um novo começo para a humanidade!" Segundo Frankfurt, o orador não está mentindo, porque não tem a intenção de provocar na plateia crenças que considere falsas. Mas também não se importa com o que a plateia pensa sobre os fundadores do país e o papel da divindade na história dos EUA. "A opinião dos outros sobre ele é o que o preocupa. Ele quer ser considerado um patriota", explica Frankfurt.

E o filósofo continua a divagação dizendo que, atualmente, parece "inevitável" não falar merda. Por quê? A teoria dele: "É inevitável falar merda toda vez que as circunstâncias exijam de alguém falar sem saber o que está dizendo". E nos dias de hoje, em que todo mundo precisa ter opinião sobre tudo (é quase um dever cívico, polemiza Frankfurt), se fala a primeira coisa que se vem à cabeça, seja ela coerente ou não com a verdade e os fatos.

Fontes
http://www.dw.com/pt-br/com-umbullshiterno-planalto-covid-19-pode-virar-a-peste-negra-brasileira/a-52809685
http://www.urbandictionary.com/define.php?term=Bullshitter
http://www.intrinseca.com.br/livro/7/
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u53727.shtml

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