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05 outubro, 2018

A canção dos caramujos que vão ao enterro

Jacques Prévert
Ao enterro de uma folha morta
Dois caramujos se dirigem
Suas conchas vestem luto
E um véu negro cobre as antenas
Prosseguem noite adentro
Uma linda noite de outono
Mas quando finalmente chegam
Já é primavera
As folhas que estavam mortas
Ressuscitaram todas
E os dois caramujos
Ficam bem desapontados
Mas o sol brilha
O sol que lhes diz
Façam, façam o favor
O favor de sentar
Peçam um copo de cerveja
Se disso é que têm vontade
Ou tomem se preferirem
Um ônibus para Paris
Vai sair um hoje à noite
Vocês verão que beleza
Mas se livrem desse luto
Sou eu que lhes digo
Escurece o branco do olho
E além do mais enfeia

Essas histórias de enterro
São tão tristes e amargas
Recuperem suas cores
As cores da vida
Então todos os animais
As árvores e as plantas
Começaram a cantar
A cantar alucinados
A canção real da vida
A canção do verão
E todo mundo a beber
E todo mundo a brindar
Naquela noite tão linda
Linda noite de verão
E os dois caramujos
Rumam de volta para casa
Vão muito emocionados
Vão muito felizes
Depois de tanto beberem
É claro que cambaleiam
Mas no céu bem lá no alto
A lua vela por eles.
Tradução: Carlito Azevedo

Os poemas de Jacques Prévert são populares nas escolas francesas. Aqui Kuriositas postou uma curta de animação de sua Canção dos caracóis que vão ao enterro. Sim, em francês, mesmo para os falantes de outras línguas, pois seria criminoso dublar esse vídeo (como diz Kuriositas), tal é o talento vocal gaulês nele incluído.
No blog EM, Prévert é citado em Carapuça e no post scriptum de Meia-noite em Paris.

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