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09 setembro, 2018

Rios: o embate entre a ordem e o caos

"Os rios atravessam nossas civilizações como fios através de contas", escreveu Olivia Laing. "Há um mistério sobre os rios que nos atrai para eles, pois eles se originam de lugares escondidos e viajam por rotas que nem sempre serão amanhã onde podem ser hoje."
Mas esse mistério caótico e repleto de civilizações pode ser sustentado por um das verdades matemáticas mais elementares da natureza.
Em 1996, o cientista da Universidade de Cambridge Hans-Henrik Stølum publicou um artigo anunciando sua descoberta surpreendente de que o pi (π) estaria atuando sobre os caminhos flexíveis dos rios do mundo para torná-los, de seus meandros aparentemente caóticos, com um padrão matematicamente previsível. Em sua simulação, usando dados empíricos e modelagem de dinâmica de fluidos, ele descobriu que os caminhos oscilantes dos rios - a sua sinuosidade, calculada dividindo o comprimento sinuoso real do rio pelo comprimento da linha direta traçada entre a fonte e a foz, era em média 3,14.
Os dados de um crowdsourcing não conseguiram replicar a média obtida por Stølum, embora a amostra do crowdsourcing fosse muito pequena para provar ou refutar um modelo teórico que abordasse a média total de todos os rios do mundo. Contudo, o que é mais interessante do que a descoberta em si é a própria noção de que o pi - ou qualquer número - poderia sustentar padrões aparentemente caóticos na natureza.
Citando a descoberta de Stølum, Simon Singh escreveu:
O número π foi originalmente derivado da geometria de círculos, e assim reaparece repetidas vezes em várias circunstâncias científicas. No caso de sua relação com o rio, o aparecimento de π é o resultado de um embate entre a ordem e o caos. Einstein (filho) foi o primeiro a sugerir que os rios têm uma tendência para um caminho cada vez mais contorcido porque a curva menos acentuada levará a correntes mais rápidas no lado externo, o que resultará em maior erosão e uma curvatura mais acentuada. Quanto mais fechada a curva for, mais rápidas serão as correntes na borda externa, maior a erosão, mais o rio se contorcerá, e assim por diante. No entanto, existe um processo natural que reduzirá o caos: o aumento da aglomeração resultará em rios que se dobram sobre si mesmos e efetivamente causam curto-circuito. O rio ficará mais reto e a alça será deixada de lado, formando um lago em "U" (oxbow lake). O equilíbrio entre esses dois fatores opostos leva a uma razão média de π entre o comprimento real e a distância direta entre a fonte e a foz.
Webgrafia
http://blogdopg.blogspot.com/2018/03/o-serpentear-dos-rios.html
http://blogdopg.blogspot.com/2018/03/segunda-geracao.html
https://www.brainpickings.org/2018/06/21/pi-rivers/
https://en.wikipedia.org/wiki/Sinuosity
https://www.theguardian.com/science/alexs-adventures-in-numberland/2015/mar/14/pi-day-2015-pi-rivers-truth-grime

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